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2006-06-14
A descoberta de uma cratera com cerca de 460 quilômetros de diâmetro (duas vezes as dimensões da Suíça e mais que a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro) e quase dois quilômetros de profundidade sob as geleiras da Antártica abriu um novo capítulo na história da vida na Terra. Até hoje os especialistas acreditavam que 90% das espécies, entre elas os dinossauros, tinham sido exterminadas devido à queda de um meteoro gigante em Chicxulub, na península mexicana de Yucatán, há 65 milhões de anos – com o impacto abriu-se uma cratera de 90 quilômetros de diâmetro que “engolira” as espécies. Na semana passada, pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, localizaram outra cratera que é cinco vezes maior que a mexicana. Coberta de gelo, ela está na região antártica conhecida como Terra de Wilkes, a leste do continente, próximo à Austrália.

Os pesquisadores acreditam que a cratera tenha se formado com o impacto na Terra de um cometa de 45 quilômetros de diâmetro, há 250 milhões de anos, período geológico conhecido como Permiano-Triássico. O cataclismo teve proporções tão gigantescas que provocou o deslocamento da superfície terrestre. Segundo o cientista Ralph von Frese, responsável pela pesquisa, o choque teria partido ao meio um gigantesco continente conhecido como Gonduana, que reunia as terras atuais do Hemisfério Sul (África, América do Sul e Austrália). “O abalo sísmico teria empurrado o continente australiano para o norte”, diz ele. Tamanho estrago deixa para trás o impacto do meteoro que caiu no México no final do período Cretáceo, dizimando os dinossauros. É justamente aí que reside a grande importância da nova descoberta porque obriga os pesquisadores a considerar um extermínio anterior a 65 milhões de anos. E essa nova perspectiva abre caminho para uma série de novas teorias evolucionistas.

“Enxergar” a cratera debaixo de uma geleira só foi possível graças à dupla de satélites espaciais americanos Grace. Embora eles tenham sensibilidade para detectar o menor movimento realizado por uma poeira cósmica, só focam suas “lentes” para a Terra se a força gravitacional de um objeto na superfície for suficientemente forte para atraí-las. Quanto maior a massa dos objetos, maior sua força gravitacional e, conseqüentemente, maiores as chances de ser flagrados. É por isso que a cratera só foi descoberta agora. Formações geológicas maiores, como as próprias geleiras vizinhas à região da Terra de Wilkes, acabavam desviando a atenção dos satélites lançados pela Nasa.

Utilizando os “olhos” dos satélites Grace, que fazem uma minuciosa “tomografia” da geografia terrestre, os cientistas detectaram uma anormalidade no relevo encoberto por gelo. Ali, há uma “bolha” rochosa cobrindo uma área equivalente à do Estado americano de Ohio e sua configuração demonstra que o terreno está se recuperando de um choque de proporções astronômicas. “Na Lua existem pelo menos 20 crateras se recuperando de colisões com outros astros”, diz Von Frese. “Quanto à Terra, mais um rastro da evolução da vida veio à tona.”
(Por Luciana Sgarbi, IstoÉ, 14/06/2006)
http://www.terra.com.br/istoe/

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