Apenas 10% das pesquisas feitas na floresta são realizadas por cientistas da
região. Acordos nas áreas política, científica e tecnológica devem ser
assinados a curto e médio prazo, inclusive o que ratifica a migração da
tecnologia brasileira do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) como
principal eixo deste processo.
Enquanto os governos agilizam as atividades para oficializar parcerias e
compromissos – como o de aprovar a minuta do acordo multinacional, hoje sob
responsabilidade da Casa Civil brasileira –, a área científica alarga seus
horizontes. O projeto "Conhecimento da Amazônia", articulado pelo Núcleo de
Assuntos Estratégicos (NAE) já atua na construção do maior banco de dados da
região. O Itamaraty tem auxiliado junto ao Conselho de Ministros das Relações
Exteriores dos Países Amazônicos, principal órgão no organograma dos assuntos
referentes à região.
Os diplomatas do Brasil, Equador, Suriname, Venezuela, Peru, Bolívia,
Colômbia e Guiana terão o documento em mãos dentro de 30 dias, embora os
primeiros trabalhos já estejam em execução. "Vamos potencializar os estudos
da biodiversidade em todos os biomas amazônicos e o Sipam nos dará essa
infra-estrutura", salientou o secretário geral do NAE, o coronel e
pós-doutorado em política e estratégia, Oswaldo Oliva Neto.
O intuito é tornar disponíveis os estudos feitos no complexo da floresta ao
longo dos tempos, fomentar outras pesquisas e integrar os cientistas
panamazônicos da maneira mais democrática possível. O desafio é imenso,
principalmente sabendo-se que apenas 10% das pesquisas científicas focadas na
Amazônia são oriundas de estudiosos locais. Mas Oliva Neto é otimista.
"Qualquer instituto ou órgão poderá participar, queremos algo o mais
transparente possível e mostrar ao mundo que temos capacidade de entender e
proteger os biomas amazônicos."
O dirigente do NAE abrirá seus bancos de dados para qualquer interessado em
conhecer tanto os estudos como as propostas de políticas unificadas entre os
parceiros. Por haver inúmeras pesquisas acabadas, porém dispersas e replicadas
nos institutos e universidades panamazônicas, o trabalho de reunir tudo no
Sipam demorará em torno de seis meses. "Teremos um imenso portal em diversas
línguas, o orçamento está em fase de montagem e envolverá todos os países da
região", disse. A integração destas informações será feita pela mesma empresa
nacional que opera no Sipam, a Atech Tecnologias Críticas.
O conceito que norteia todas as atitudes voltadas à Amazônia é a
auto-sustentabilidade. A secretária-geral da OTCA e ex-presidente do Equador,
Rosalía Artearga Serrano, é uma especialista na floresta e detém uma série de
titulações e prêmios internacionais voltados a proteção ambiental. Para ela,
até hoje a Amazônia foi tratada apenas sob a ótica do conquistador. Ou seja,
um território para se explorar até a exaustão. "Chegou o momento de mudarmos
isto."
O Brasil é líder sul-americano em tecnologia, na opinião de Rosalía, e conta
com o apoio da OTCA e das nações panamericanas. Os primeiros ensaios neste
sentido já são vistos na Venezuela e nos contatos com o Peru, pois todos
possuem problemas semelhantes. "Estamos num estágio de negociação do convênio
com o Sipam e esse caminho está adiantado."
(Por Julio Ottoboni,
Gazeta Mercantil, 14/06/2006)