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2006-06-14
A China anunciou uma vitória parcial em seus esforços para deter o avanço dos desertos, mas admitiu que a guerra contra a areia que invade terras cultiváveis nunca terminará. Diante da proximidade dos Jogos Olímpicos de 2008, que, Pequim garante, terão um enfoque “verde”, as autoridades lançaram caros e ambiciosos programas para combater a desertificação. Uma “grande muralha verde” de árvores plantadas desde 1978, no valor de US$ 6,3 bilhões, foi erguida para proteger as cidades do norte dos desertos que se fecham sobre elas.

Como resultado, a desertificação reduziu seu ritmo, ao passar da média de 10,4 mil quilômetros quadrados ao ano no século XX para cerca de três mil quilômetros anuais desde 2001, anunciou a Administração Florestal Estatal há cerca de uma semana. “O trabalho contra a desertificação na China teve grandes progressos. Melhorou efetivamente as condições da produção agrícola. Mas se houve certo êxito, a situação continua sendo muito grave”, disse à imprensa o vice-diretor desse organismo, Zhu Lieke.

Os desertos agora cobrem quase um quinto do território chinês, e as zonas ameaçadas por desertificação chegam a mais de um quarto, segundo o Ministério de Terras e Recursos. “Quando falamos de bacia do pó da China, vejo uma antiga civilização impactada pelos desertos que avançam desde o interior e pelas crescentes ondas desde a costa”, disse o ambientalista norte-americano Lester Brown, presidente do independente Earth Policy Institute, com sede em Washington.

O vale do pó da China é hoje a maior área do mundo onde terra produtiva se converte em deserto, disse Brown, que falou com a IPS durante uma visita a Pequim na semana retrasada. Os triunfos contra a areia e as ondas são muito pequenos se comparados com as perdas ambientais nos últimos 26 anos de acelerado crescimento econômico chinês. A rápida industrialização e a ampliação das cidades reduziram o espaço cultivável disponível e os recursos hídricos, agravando o já preocupante problema da escassez de terras. Uma explosão na indústria da madeira e dos móveis derivou em um feroz corte de árvores, o que deixa o país mais vulnerável ao avanço da areia.

A desertificação custa anualmente à China mais de US$ 1 bilhão em perdas econômicas diretas, segundo dados da imprensa oficial. Entretanto, a Organização das Nações Unidas diz que o número chegaria, na realidade, a cerca de US$ 6,5 bilhões. Seu impacto é sentido principalmente nas áreas mais secas, no oeste, que também são as mais pobres. O governo estima que o sustento de aproximadamente 500 milhões de pessoas estaria em perigo pelo avanço dos desertos de Gobi, Taklimakan e Kumtag. O problema da desertificação na China também tem efeitos além de suas fronteiras. Desde o final de 1990, tempestades de areia causam estragos na Coréia do Sul, no Japão e, inclusive, nos Estados Unidos, agravadas por uma prolongada seca no noroeste chinês.

“O pó é uma das maiores exportações ambientais chinesas”, disse Brown. Na semana retrasada, as autoridades de Pequim prometeram trabalhar com os países da região para combater a desertificação. Um plano geral para o controle de tempestades de areia no nordeste da Ásia foi lançado de forma conjunta por China, Coréia do Sul, Japão e Mongólia. “O plano inclui a observação da atmosfera e do controle do solo. Será implementado apenas se obtiver financiamento internacional”, disse a jornalistas o diretor do Escritório de Controle de Areias da Administração, Li Tuo.

A guerra da China contra os desertos tem centenas de anos. Até agora, só conseguiu reduzir o número de tempestades de areia que açoitam Pequim durante a primavera. Na década de 90, a média anual de tempestades foi de 24, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, mas desde 2004 não houve mais de quatro. Entretanto, a intensidade das tempestades aumenta ano a ano. No dia 16 de abril, a capital foi sacudida por uma forte tempestade que deixou 330 mil toneladas de pó nas ruas, segundo o jornal em língua inglesa China Daily.

Especialistas alertam que as autoridades cometem um erro ao concentrar esforços nas tempestades, que são apenas um sintoma do grande problema, que é a degradação da terra. O projeto da Grande Muralha Verde, pelo qual se paga aos agricultores para cada hectare plantado, é muito caro e insustentável, afirmaram. A Administração informou que prevê investir US$ 87 bilhões em plantação de árvores e vegetação para cobrir 74 milhões de hectares nos próximos 50 anos. Especialistas indicaram que alguns planos de reflorestamento incentivaram a plantação de árvores em zonas onde não têm condições de sobreviver.

As reformas econômicas de 1979, que desregulamentaram a agricultura, permitiram que muitos produtores rurais aumentassem seus rebanhos. Agora, a população de gado chega a 339 milhões de cabeças, o que contribui para a rápida diminuição das pastagens, sobretudo no norte e noroeste do país. Em resposta a esta situação, o governo impôs restrições à alimentação do gado e ao corte de árvores, e incentiva projetos de irrigação. Mas “a menos que se reduza o número de animais, não será possível deter os desertos”, alertou Brown.
(Por Antoaneta Bezlova, IPS, 13/06/2006)
http://www.jornaldomeioambiente.com.br/JMA-index_noticias.asp?id=10325

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