Ciência revê conceitos de que sexo dos bichos só visa à reprodução da espécie
2006-06-13
Um grupo de preguiçosos hipopótamos descansa às margens de um rio africano
enquanto pequeninos peixes mordiscam suas patas – nelas há parasitas e os
peixes gostam deles. Nesse momento, como alguém que relaxa sob as mãos de um
massagista, os hipopótamos prazerosamente esticam as patas, alargam os dedos
(é para ajudar o trabalho dos peixes) e abrem a boca em sucessivos bocejos.
A natureza tem razões que a própria razão desconhece. Vamos agora a um
laboratório nos EUA. Nele, ratos começam a salivar quando os cientistas lhes
acenam com torrões de açúcar ou pedaços de queijo. Finalmente, vale a pena
dar uma olhada numa floresta e nada se compara à excitação das onças quando
sentem a fragrância de um Calvin Klein Obsession masculino. Demorou. Mas a
ciência já aceita que os animais sentem prazer – e nele está incluído o prazer
sexual.
Depois de anos de controvérsia, centros de pesquisas em todo o mundo chegaram
a um acordo: os animais não realizam suas tarefas cumprindo apenas um roteiro
instintivo de sobrevivência – embora ele naturalmente exista. Segundo o
etnólogo americano Jonathan Balcombe, autor de Pleasurable kingdom: animals
and the nature of feeling good (Reino do prazer: os animais e a natureza de
se sentir bem), os “animais têm sentimentos muito parecidos com os dos homens
e entre esses sentimentos há o prazer no ato de acasalar e copular.
”Assim, a noção de que o ato sexual significa apenas tocar o gene da espécie
para a frente começa a cair. Os pesquisadores entendem que, a exemplo dos
humanos, a maior parte dos vertebrados copula não somente para se perpetuar
de geração em geração. “Eles querem se divertir”, diz Balcombe. E isso vale
para uma joaninha, para uma libélula ou para um elefante. As libélulas,
agressivas no ato de reprodução, chegam a ponto de às vezes se matarem no
acasalamento. Isso é instinto e joga contra a continuidade da espécie, mas
nesse ato elas liberam substâncias idênticas às que são liberadas quando
estão em momentos de extremo prazer, como a exposição ao sol.
A ciência chega a essa conclusão depois de estudar por décadas quase todos os
vertebrados, dos mamíferos aos peixes, cujas estruturas neurológicas e
bioquímicas são similares às dos humanos. Ao observar grupos de corvos, o
biólogo americano Bernd Heinrich descobriu que esses pássaros tomam banho não
apenas para manter a temperatura corpórea constante e combater os parasitas.
“Eles nem sabem dessa propriedade do banho”, diz Heinrich. “Para os corvos,
tomar banho é gostoso e dá prazer.”
(Por Julio Wiziack, IstoÉ, 14/06/2006)
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