África busca "Revolução Verde" para ajudar no combate à fome
2006-06-13
Líderes africanos e entidades da comunidade internacional lançaram na sexta-feira (09/06) um plano ambicioso para incentivar uma
"Revolução Verde" no setor agrícola do continente, com base em um aumento no uso de fertilizantes. O plano ajudaria a
combater a fome na região mais pobre do planeta. Um terço dos moradores da África subsaariana sofre atualmente com a
falta de alimentos e com a subnutrição. Segundo especialistas, esse fenômeno deve-se em parte ao desgaste do solo, algo
que acontece quando as terras cultivadas perdem mais nutrientes do que podem repor.
A modernização das técnicas agrícolas e o aumento no uso de fertilizantes patrocinado pelas "Revoluções Verdes" na Ásia e
na América Latina, nos anos 1950 e 1960, aumentaram dramaticamente a produção de alimentos e erradicaram a fome na
maior parte dessas regiões. Na África, onde muitos agricultores não têm dinheiro para comprar fertilizantes, a produção de
alimentos per capita caiu nos últimos 40 anos e especialistas alertam para o perigo de que, se as terras não forem
recuperadas, ela caia em até 30 por cento nos próximos 15 anos.
Para enfrentar esse problema, chefes de Estado e ministros africanos, grupos de agricultores, cientistas e doadores da
comunidade internacional reuniram-se em Abuja (capital da Nigéria) com a meta de identificar passos concretos a serem
adotados a fim de ajudar os agricultores africanos a terem acesso aos fertilizantes. "Sem progressos no aumento da
fertilidade do solo, a fome será uma presença constante na África e uma causa potencial de conflitos", disse o ex-presidente
dos EUA Jimmi Carter numa mensagem em vídeo.
Entre as medidas estariam a criação de redes de pequenos revendedores a fim de reduzir a distância percorrida pelos
agricultores para comprar fertilizante e o desenvolvimento de mecanismos de financiamento para ajudar os agricultores a
comprar esses produtos. Também poderiam ser incluídas medidas como subsídios para reduzir o preço dos fertilizantes,
mecanismos para desenvolver a produção local e uma estrutura melhor de financiamento para os importadores e distribuidores
do setor privado.
AMEAÇA AO MEIO AMBIENTE
A África detém 60 por cento das reservas de fosfato do mundo, ingrediente chave para a produção de fertilizantes, mas
nenhum produção. "O potencial está lá, mas não é possível se alimentar de potencial. Ele tem de ser convertido em grãos",
disse Norman Borlaug, agronomista que recebeu o prêmio Nobel por seu papel na "Revolução Verde" na Ásia e na América
Latina. No cenário atual, os africanos pagam até seis vezes mais que o preço médio mundial por seus fertilizantes devido à
ausência de fabricantes nacionais e ao alto custo dos transportes.
O problema é mais grave em países sem acesso ao mar. Sai mais caro levar um saco de fertilizante de um porto para uma
cidade africana localizada a 100 quilômetros dele do que enviar esse mesmo saco dos EUA para a África. Os agricultores
africanos usam em média 8 quilos de fertilizante por hectare, ou um quinto da quantidade mínima necessária para substituir
os nutrientes tirados do solo a cada colheita. Estudos mostram que mais de 80 por cento das terras aráveis da África estão
bastante degradadas.
Esse fenômeno, quando somado ao crescimento populacional, traduz-se em fome e subnutrição, além de representar uma
ameaça ao meio ambiente já que os agricultores abandonam as terras inférteis para derrubar florestas ou realizar plantações
na savana. Segundo estudos, 70 por cento do desmatamento na África envolvem agricultores em busca de terras para cultivo.
O desgaste do solo também acelera a desertificação, problema que atinge metade da África.
Especialistas reconhecem que os fertilizantes não responderão a todos os problemas, já que o uso excessivo ou incorreto
deles também prejudica o meio ambiente. Treinar os comerciantes e os agricultores para usar corretamente esses produtos é
um dos desafios da "Revolução Verde" em pauta.
(Reuters, 09/06/2006)
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