É curioso o discurso de militante ambiental dos líderes do MST e da Via
Campesina para justificar o reflorestamento e a indústria de celulose - em
expansão no Rio Grande do Sul, na Argentina e no Uruguai - como novos alvos.
Estivesse a preocupação com o ambiente entre as prioridades do MST, o
movimento teria protestado contra a decisão do Incra de assentar cem famílias
de sem-terra numa área de 7,7 mil hectares coberta pela Mata Atlântica - um
ecossistema que ruma para a extinção - em Apiaí (SP).
Como para maioria dos sem-terra árvore é sinônimo de lenha e terra rima com
arado e lavoura, a fúria dos neo-ambientalistas contra o reflorestamento
talvez tenha outras motivações. A redução dos campos desocupados na Metade
Sul, por exemplo. A expansão do eucalipto pelo pampa fará com que áreas
desocupadas sejam tomadas por florestas, e se tornem produtivas. E como se
sabe, o Incra não utiliza áreas produtivas para reforma agrária. Além disso,
a transformação de "latifúndio improdutivo" em "deserto verde", para usar a
linguagem dos ativistas, está valorizando terras na Metade Sul. O custo médio
do hectare saltou de R$ 1 mil para R$ 3 mil nos últimos três anos. A
conseqüência á óbvia: terras valorizadas, mais dificuldades para o aquisições
e edificação de novos assentamentos.
Além disso, a decisão da Via Campesina anunciada ontem (12/06) reforça que a luta dos
sem-terra no mundo, hoje, visa também ao combate às multinacionais e à
globalização.
* Carlos etchichury é repórter
(
Zero Hora, 13/06/2006)