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2006-06-13
Pela primeira vez em mais de três décadas, países pró-caça à baleia devem dominar uma reunião da CIB - Comissão Internacional da Baleia. O encontro anual da CIB - que vai ocorrer no fim da semana nas ilhas de St. Kitts e Nevins, nas Pequenas Antilhas - acontecerá depois de uma série de adesões de países que se alinham à posição do Japão, principal defensor da volta da caça comercial.

"Pela primeira vez desde a década de 70, a comissão estaria sob o controle dos caçadores", acredita Vassily Papastavrou, um biólogo marinho do Ifaw - International Fund for Animal Welfare. E, segundo ele, "o Japão já disse que quer acabar com decisões de proteção e conservação da Comissão".

O ministro britânico para Assuntos Marinhos, Ben Brasdshaw, se disse "bastante preocupado". Uma maioria pró-caça poderia acabar com vários programas de conservação, embora não se acredite que consiga liberar totalmente a caça comercial.

Maioria
Para voltar aos tempos da caça comercial livre, o Japão precisaria conseguir dois terços dos votos, o que é bastante improvável. Mas uma maioria simples seria o suficiente para impedir a Comissão de regular formas de matança, bem-estar, turismo em santuários e assuntos relacionados a pequenos cetáceos, como golfinhos. O potencial para colisões é mais alto neste ano do que tem sido por décadas.

Formada em 1946, o propósito original da comissão era regulamentar a caça comercial. Depois que tornou-se óbvio que algumas espécies estavam sendo extintas, esta regulamentação tomou a forma de uma moratória global na caça às baleias. A Noruega fez uma objeção formal à proibição da caça e continuou a praticá-la, mas em quantidades radicalmente inferiores do que a dos últimos séculos.

Desafio à moratória
O Japão reiniciou a caça usando uma brecha da CIB, que permite a caça para "pesquisa científica". E foi seguido pela Islândia. Os dois países ampliaram a caça nos últimos anos e, em 2006, mais de 2 mil baleias foram mortas. O maior número desde a introdução da moratória, em 1986.

Nações pró-caça insistem que é possível voltar à caça comercial com limitações. O número de baleias de algumas espécies seria grande o suficiente, alegando que a CIB tornou-se uma organização dedicada a impedir a caça, contrariamente ao seu propósito inicial. Há grandes variações em estimativas de baleias Minke, a espécie mais caçada atualmente, o que praticamente impede a imposição de limites para caça.

Apesar da CIB ter como objetivo tomar decisões puramente científicas, um programa de caça limitado, que vinha sendo discutido há dez anos, foi abandonado em meio a discussões políticas no início deste ano.

O bloco contra a caça, do qual o Brasil faz parte, é liderado informalmente pela Austrália, Nova Zelândia e Grã-Bretanha. E inclui também os Estados Unidos. Bradshaw afirma que o bloco pró-caça "está perdendo a discussão internacionalmente". "Nenhum dos países pró-caça têm mercado para a carne. Os jovens japoneses, islandeses e noruegueses não comem carne de baleia e o consumo está caindo", diz o ministro britânico.

A organização norueguesa Norway High North Alliance discorda. "Acreditamos que existe crescente apoio para a caça de baleias", disse o Secretário da organização, Rune Frovik. "Em algumas culturas se come sapos, os hindus não comem carne. É a escolha deles, mas eles não tentam proibir o resto do mundo de comer carne também", afirma Frovik.

Os encontros anuais da CIB sempre são precedidos da tentativa de trazer novos membros para a comissão. As ilhas Marshall, a Guatemala e o Camboja se juntaram à CIB do lado do Japão. Mas os números finais só serão conhecidos quando os delegados chegarem na sexta a St. Kitts. É que alguns países não pagam suas anuidades e ficam impedidos de votar.

"Os países pró-caça tinham maioria no ano passado, no papel", lembra Bradshaw. "Mas porque alguns países não enviaram delegados e outros não pagaram, nós ganhamos todas as votações por um voto".

Se a virada se confirmar, vai ser interessante ver o quanto os líderes contra a caça vão estar preparados diplomaticamente para ir contra o Japão, a Islândia e a Noruega, países com quem têm muito em comum em outras áreas. Existem rumores de que indústrias como a do turismo, que tem apoiado a caça, especialmente em lugares como o Caribe e Estados como St Kitts e Nevins, podem sofrer retaliações.

Um delegado de uma das nações contra a caça disse que não vai haver boicote organizado, mas que alguns países podem sofrer com propaganda negativa. Destinos turísticos poderiam sofrer se os turistas potenciais soubessem que eles apóiam a matança de baleias.
(BBC Brasil, 12/06/2006)
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=25138

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