Brasil estuda projetos de energia na América Central
2006-06-13
O Brasil poderá participar do esforço dos países da América Central para o desenvolvimento dos mercados locais de petróleo, eletricidade, gás natural e de fontes alternativas de energia, como álcool e biocombustíveis. Os países da região têm plano de construir uma refinaria de petróleo com capacidade para processar 360 mil barris/dia, porte semelhante ao da Replan (SP), maior unidade de refino do Brasil, investimento estimado em cerca de US$ 6 bilhões.
Os valores fazem da refinaria o principal investimento na América Central desde a construção do Canal de Panamá, inaugurado em 1914. O local do empreendimento ainda não está definido, mas estudos apontam para o Panamá ou Guatemala. Os presidentes dos países centro-americanos e seus colegas do México, Colômbia e República Dominicana decidiram, no início deste mês, avançar no projeto de construção da refinaria, que terá termelétrica associada.
A idéia é que o México forneça 230 mil barris/dia ou 64% do total a ser processado pela unidade. A parcela restante seria fornecida pelos investidores do projeto com quem os países ainda devem iniciar o diálogo. O Banco Centro-Americano de Integração Econômica (BCIE) e instituições financeiras privadas, nos EUA, estariam dispostas a financiar a construção da refinaria. A Venezuela tem interesse em fornecer parte do petróleo a ser refinado na unidade.
Uma eventual participação do Brasil também está no horizonte: "A Petrobras poderia participar do negócio se encontrar no mercado cerca de 130 mil barris de petróleo/dia, que irão se somar aos 230 mil barris/dia a serem fornecidos pelo México. O projeto, que prevê exportação de combustíveis para a Califórnia (EUA), é rentável", avalia Marcelo Antinori, coordenador do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o Plano Puebla Panamá (PPP).
O PPP é uma iniciativa de integração entre os Estados do Sul do México e os países da América Central, que contempla um conjunto de projetos de interligação física nas áreas viária e energética. Parte-se do princípio que a integração econômica é estratégica para melhorar a competitividade dos países da América Central. Uma maior integração regional permite aproveitar economias de escala, atrair investimento estrangeiro direto e promover a estabilidade política.
"O Brasil acredita que tem coisas boas a oferecer aos países da região, e um dos caminhos é por meio das transnacionais brasileiras, que podem participar de projetos de infra-estrutura em igualdade de condições com empresas de outros países", diz Marcel Biato, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República.
Emanuel Nazareno, consultor da Transpetro, subsidiária da Petrobras, conversou sobre o projeto de refino com membros do governo do Panamá. Nazareno encaminhará o tema para análise da diretoria internacional da estatal.
O consultor participou, no início do mês, com Biato, empresários e outros funcionários do governo brasileiro, de missão a cinco países centro-americanos, liderada pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. O fim da missão coincidiu com a 2ª Cúpula da Iniciativa Energética Mesoamericana, na República Dominicana, da qual participaram os presidentes México, Vicente Fox, da Colômbia, Álvaro Uribe, e de países da região.
Na declaração final do encontro, os presidentes reiteraram o compromisso de promover o mercado de gás natural na América Central. O BID deverá financiar estudos para definir a estratégia de introdução do gás natural na matriz energética centro-americana. Existe a idéia de construir um gasoduto do México até a Colômbia passando pelos sete países da América Central (Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá).
A introdução do gás seria uma alternativa para reduzir custos com as importações de derivados de petróleo. Só a Guatemala gastou, em 2005, US$ 1,5 bilhão com compras de combustíveis, o dobro do que havia gasto em 2003. Na estratégia de redução da dependência do petróleo, os países também apostam na construção de projetos hidrelétricos e em estender uma linha de interconexão elétrica com 1,8 mil quilômetros, cujas obras poderão começar no segundo semestre de 2006. Em um segundo momento, o linhão poderá chegar à Colômbia e ao México.
O objetivo da interligação é aumentar os investimentos no setor elétrico na região e reduzir o custo da eletricidade. Em El Salvador, existe risco de racionamento de energia. As construtoras e projetistas brasileiras acompanham esse cenário com atenção. Alusa, Intertechne, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht têm interesses na região.
As empreiteiras olham também projetos de construção de estradas, como a Transversal Norte, na Guatemala. Existe ainda o projeto de construir uma estrada ligando três portos em El Salvador, Guatemala e Honduras. O projeto, orçado em US$ 170 milhões, será financiado pelos japoneses e é considerado o canal seco da América Central, potencial concorrente do Canal de Panamá.
(Por Francisco Góes, O Estado de São Paulo, 12/06/2006)
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