Surfista australiano entra na luta ambiental carioca
2006-06-13
Um surfista australiano que há 14 anos trocou as águas da Oceania pelas ondas cariocas é atualmente um dos grandes defensores do Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Do estereótipo vinculado aos praticantes do esporte, Glenn Suba não tem nada.
Co-idealizador da organização não-governamental (ONG) e-brigade, o australiano luta para disseminar a cultura do Desenvolvimento Sustentável e, para tanto, tem se empenhado no levantamento da situação ambiental do país e na busca de soluções para reverter o quadro de devastação.
"Pesquisei a situação dos destinos turísticos onde o meio ambiente é a principal atração e o que vi foi caótico. O índice de reciclagem nessas regiões é muito baixo, por volta de 5%, e cerca de 90% destes locais possui lixões irregulares, a céu aberto", afirma Suba.
Um dos objetivos do surfista é mostrar como alternativas sustentáveis podem ajudar no Turismo. Um dos pontos é que a coleta seletiva gera empregos; outro, é que o reaproveitamento de materiais ajuda a preservar os bens naturais, chamarizes de várias cidades brasileiras.
"O Brasil é uma das opções mais seguras para os turistas pela questão de que não existem desastres naturais aqui, como terremotos e furacões. Sem contar que o perfil do turista tem mudado muito. Eles estão em busca de qualidade e um projeto de Desenvolvimento Sustentável agrega valor", acrescenta Suba.
Para atingir os jovens e tentar mobilizá-los pelo Desenvolvimento Sustentável, uma parceria foi criada com Oskar Metsavaht, de uma marca de surfwear, que abriu espaço em suas lojas para uma coleção de conscientização assinada por profissionais da equipe de criação da empresa e que leva o símbolo da e-brigade.
"O jovem de hoje é rebelde, com uma futilidade generalizada. Ele olha o futuro com preocupação por não se sentir seguro e por isso quer viver o agora, existe o imediatismo. Eu queria que o jovem carregasse a bandeira do Desenvolvimento Sustentável, que lutasse por causas como aconteciam antigamente. Ele precisa se sentir dono do futuro", desabafa o surfista.
NAS ONDAS - Quando viajou para a Indonésia, Suba conheceu alguns brasileiros no local e começou a se interessar pelo Brasil. Decidiu vir conferir de perto as belezas do país e se apaixonou pelo que chama de "ar de futuro e de oportunidade".
Passou a surfar pelas praias do Rio de Janeiro e foi a indignação com a qualidade das águas que o aproximou da luta pela preservação ecológica. Nesta época se reuniu com outros amigos do esporte para iniciar os trabalhos da ONG Surfrider Foundation. E percebeu que no meio ambiente tudo é interligado que o australiano resolveu trocar a bandeira de preservação das águas pela de preservação do ecossistema, com foco na educação ambiental, a qual considera a solução dos problemas.
"O planeta vai bater na parede porque há décadas somos vítimas da devastação. Ou batemos a 100 quilômetros por hora sem air bag, ou aplicamos, aos poucos, sistemas de segurança. Por isso não podemos fazer só planejamento de longo prazo, precisamos também de soluções imediatas", explica o surfista, que revela que foi nos bares que aprendeu política e a língua portuguesa. E para quem pensa que o Brasil está atrasado em relação aos países desenvolvidos, Suba explica que estamos enganados.
Segundo o australiano, no que se refere à preservação ecológica, o país está num ritmo mais acelerado que potências como Japão e Alemanha, que têm quase todos os recursos naturais esgotados. "A Austrália foi devastada pela economia e perdeu sua biodiversidade. Aqui ainda resta tempo para desenvolvermos uma situação econômica baseada na preservação ecológica", justifica.
Porém, muitos desses países tomaram providências drásticas e eficientes, como a eletricidade solar e a coleta seletiva exigida por lei. "É preciso que essa consciência faça parte do dia-a-dia das pessoas. O modelo de economia ocidental tem atrapalhado. Já imaginou se na China todos decidem ter carro?", questiona Suba.
Para quem quer seguir algumas das dicas divulgadas pelo australiano, vale lembrar que a preferência por locais de hospedagem que adotam práticas de gestão ambiental é um bem incentivo na tentativa de modificar a atuação empresarial, que podem selecionar distribuidores que vendam produtos com embalagens recicláveis. Os trabalhos da e-brigade foram apresentados no estande de Tecnologias Ambientais instalado no 2° Salão do Turismo - Roteiros do Brasil.
(Folha de São Paulo, 12/06/2006)
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