Vegetarianismo a favor do meio ambiente
2006-06-13
Algumas pessoas se tornam vegetariana pela libertação animal e outras em
busca da boa saúde, mas há um motivo muito importante que deve ser
considerado por todos: a ação impactante que a pecuária tem sobre o meio
ambiente. Em entrevista a ÉPOCA Online, o biólogo e ativista Sérgio Greif
explicou um pouco mais sobre o assunto.
Impacto ambiental de uma dieta centrada na carne
A pecuária representa uma das atividades humanas mais impactantes para o meio
ambiente, consumindo grandes quantidades de água, grãos, combustíveis
fósseis, pesticidas e drogas. Esta atividade é também a principal causa por
trás da destruição das florestas tropicais e outras áreas naturais, além de
grande responsável por outros impactos ambientais, como a extinção de
espécies, erosão do solo, escassez e contaminação de águas, desertificação,
poluição orgânica e efeito estufa.
Destruição da flora e fauna natural
A maior parte do gado brasileiro é criada pelo sistema extensivo, onde os
animais permanecem soltos no campo, ocupando vastas áreas. Neste sistema,
considerado pouco produtivo, cada cabeça de gado necessita de um hectare
(10.000 m²) de terra para engordar. O Brasil possui o maior rebanho comercial
do mundo (mais de 200 milhões de cabeças), que necessita de uma área de
pastagem de, no mínimo, 2 milhões de km² para ser sustentado. Esta área
equivale a um quarto do território nacional. Estas pastagens eram
anteriormente áreas naturais como cerrados, florestas tropicais, entre outros.
Quando ambientes naturais são destruídos para a formação de pastos ocorre a
perda de biodiversidade na área: a maior parte dos animais e plantas nativos
desaparecem do local, sendo substituídos por forrageiras invasoras e gado. A
remoção da cobertura vegetal original transforma completamente o ambiente,
tornando-o impróprio para sustentar a maior parte das espécies que antes ali
viviam. Ainda, as raras espécies que se adaptam às novas condições tendem a
ser eliminadas pelos fazendeiros, uma vez que entram em competição com o
gado ou passam a predá-lo devido a ausência de suas presas naturais. Há
também várias doenças, como a raiva, o antraz, a toxoplasmose e a febre
maculosa, que são transmitidas do gado para os animais silvestres e
vice-versa, o que freqüentemente resulta na eliminação dos animais silvestres.
A remoção da cobertura vegetal original para formar pastos não apenas
compromete a biodiversidade, como também interrompe o equilíbrio e a
reciclagem natural de nutrientes, como o que estamos observando no caso da
Floresta Amazônica. Locais no planeta onde a atividade de pastoreio é mais
antiga são testemunhas de que o homem de fato transforma florestas em
desertos. O super-pastoreamento destrói toda a possibilidade de rebrotamento
e crescimento vegetal. Além disso, quando o gado pisoteia massivamente o
solo, este é compactado. Isto torna a absorção da água dificultada, além de
possibilitar o arraste de material superficial pelo vento e pela água,
resultando em processos erosivos.
Poluição do meio ambiente
A pecuária também é uma das mais importantes fontes de poluição do meio
ambiente. Ela consome grandes quantidades de recursos, gerando resíduos e
gases que contaminam o solo, a água e o ar. A produção de excrementos animais
ultrapassa em muito a produção de excrementos das grandes cidades. Este
excremento na maior parte das vezes não pode ser empregado na agricultura e
não é direcionado para nenhuma estação de tratamento de esgotos, sendo
inadequadamente disposto no ambiente. No meio ambiente, estes excrementos
colocam em risco a saúde pública, estando associados à disseminação de
coliformes fecais, proliferação de insetos e problemas de saúde como alergias,
hepatite, canceres e outras doenças. Em alguns municípios catarinenses a
suinocultura é responsável por mais de 65% da emissão de poluentes. A
contaminação das águas superficiais por coliformes fecais em algumas regiões
do Sul do Brasil chega a 85% das fontes naturais de abastecimento.
Mesmo em países desenvolvidos, onde a abundância de recursos permite um
manejo mais adequando e melhor infra-estrutura, a insustentabilidade da
pecuária torna impossível o controle efetivo da poluição. Por exemplo, países
europeus como a Holanda, Inglaterra, Dinamarca, Alemanha, Bélgica e França
apresentam problemas ambientais ocasionados pela pecuária muito mais graves
do que os nossos. Os Estados Unidos já possuem áreas com níveis de
contaminação alarmantes.
>b>A pecuária e a água
A pecuária implica também um uso ineficiente da água. Cerca de 70% da água
doce captada pelo homem dos rios, lagos e depósitos subterrâneos é destinada
para uso agrícola, sendo que os 30% restantes são utilizados para as demais
atividades, como consumo doméstico, atividade industrial, geração de energia,
recreação e abastecimento. No Brasil, são necessários em média 2 mil litros
de água para produzir cada quilo de soja. Por outro lado, para produzir cada
quilo de carne bovina são necessários cerca de 43 mil litros de água. Nesse
cálculo entram não só a água que os animais bebem, cerca de 50 litros/dia,
mas também a água utilizada na produção de seu alimento.
O pecuarista não paga pela água que utiliza nem para os dejetos que o
abatedouro gera. No preço da carne não estão contabilizados nestes custos,
nem os prejuízos ao meio ambiente causados pela criação de animais. Todos
estes custos são subsidiados pelo governo. Isto significa que o contribuinte
arca com todos, para lucro exclusivo do setor pecuário.
Vegetarianismo contra a fome no mundo
Se compararmos nossa atual produção agrícola com a população humana hoje
existente, veremos que não há motivos para a fome no mundo. Não há déficit
na produção, pelo contrário, são produzidas cerca de 1,5 quadrilhões de
calorias a mais do que seria necessário para sustentar nossa população. A
fome só existe porque cerca de 25% dos grãos cultivados no mundo são
utilizados na alimentação do gado. Mesmo o fato de que este gado será
posteriormente utilizado para alimentar seres humanos não é justificativa,
visto que a produção de carne representa um uso ineficiente dos grãos. Os
grãos são utilizados de forma mais eficiente quando consumidos diretamente
por seres humanos
Vegetarianismo preservando florestas e áreas naturais
Caso o vegetarianismo fosse uma situação generalizada dentro de nossa espécie,
seriam necessárias menos áreas de cultivo para sustentar nossa população.
Muitas áreas naturais jamais precisariam ser tocadas e desta forma haveria
uma maior preservação ambiental. Não haveria a situação de desperdício de
recursos hídricos, pois seriam adotadas para cultivo apenas áreas próprias
para agricultura, sem quase nenhuma necessidade de irrigação. A captação de
água ocorreria basicamente para atender às cidades e às industrias, portanto
haveria menor incidência de secas.
(Por Cristiane Senha, Época, 12/06/2006)
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG74465-5856-421,00.html