"Eu me sinto muito bem fazendo isso, pelo menos no trecho onde eu caminho não tem lixo jogado no chão", disse Inês Josefina Sauthier Dalcin, 79 anos, que diariamente recolhe o lixo que encontra pelo caminho em suas caminhadas matinais. O hábito foi adquirido há dez anos, quando seu marido Hortêncio Dalcin teve problemas cardíacos. Por orientação médica, eles passaram a caminhar diariamente.
A residência fica na divisa das comunidades de Santa Clara Baixa e Paraguaçu, à margem da RS-446 (a popular rodovia São Vendelino), por isso o exercício do casal era pelo acostamento da rodovia.
Nas primeiras caminhadas, o casal percebeu que havia muita sujeira em meio à vegetação que margeia a movimentada rodovia. Foi nesta época que eles começaram a recolher os detritos pelo caminho.
Hortêncio faleceu em 17 de junho de 2004, mas a viúva manteve o hábito de recolher a sujeira. Na manhã de segunda-feira, 5, Dia Mundial do Meio Ambiente, o contexto flagrou Inês em plena atividade ecológica.
"A gente viu que tinha muitas garrafas plásticas, latas e todo tipo de lixo. O pessoal joga quando passam pela estrada. Começamos a recolher", disse Inês.
Inicialmente, acondicionavam em sacos e sacolas plásticas, no pátio da Escola Municipal Olavo Bilac. "O pessoal da Prefeitura vinha recolher de vez em quando, depois começou a vir uma vez por mês."
Atualmente, Inês deposita os detritos que encontra à beira da estrada, onde o caminhão da coleta de resíduos domésticos recolhe semanalmente.
Ela encontra de tudo um pouco, como relata: "O que mais se encontra são latinhas de bebidas, litros de refrigerante e muitas embalagens plásticas, latas de azeite e papel. No verão, na época das festas, tem bastante, os bêbados jogam fora até garrafas de vidro".
Inês nunca foi à escola , mas aprendeu a ler e a escrever com seu falecido pai Clemente Raymundo Sauthier. A consciência ecológica ela desenvolveu desde criança, mas teve que ouvir piadas sobre a coleta que faz de forma espontânea.
"Teve gente que veio perguntar quanto eu ganhava para fazer isso. Eu respondi: ‘Sou cidadã brasileira e não quero saber de lixo pela rua’. Eu faço a minha parte, se cada um fizesse a sua não teria poluição", salientou Inês.
Um morador da localidade, ao vê-la recolhendo o que os outros jogam na beira da estrada, elogiou: "Ele disse: ‘Ainda bem que alguém ajunta’, e que mais para baixo tinha muita sujeira. Mas eu pensei: por que ele não recolhe?".
A maior preocupação de Inês é com as futuras gerações: "Acho que isso é nossa responsabilidade, eu penso no mundo que vamos deixar para nossos netos, bisnetos".
Para familiares e conhecidos, Inês disse que sempre procura falar para não jogarem nada para fora quando estão em carros. "O correto é ter uma sacolinha no carro, pôr o lixo ali e quando chegar em casa colocar na lixeira".
(Jornal Contexto, 12/06/2006)