A boa fase que vive o setor sucroalcooleiro atrai mais um grupo interessado em
prestar serviços às usinas. O conglomerado francês Veolia, um dos líderes
mundiais em serviços ambientais, realizou na semana passada, em Ribeirão Preto
(SP), seu primeiro encontro com representantes do setor. "O intuito é oferecer
às usinas de açúcar e álcool ‘centrais de multiutilidades’, envolvendo o
suprimento e o gerenciamento de sistemas de água de alta pureza, energia e
gases industriais, além de tratamento de resíduos e efluentes", diz o engenheiro
químico Francisco Rodés Faus, gerente de vendas da Veolia Water, uma das
empresas do grupo.
Com faturamento global de € 25,2 bilhões em 2005, o Grupo Veolia nasceu há mais
de 150 anos, na França, com a criação da Compagnie Générale Des Eaux, em 1853.
Em todo o mundo, o grupo tem 271 mil funcionários e atua nos segmentos de água
(35,3% da receita), resíduos e efluentes (26,2%), energia (21,4%) e transporte
(17,1%). No Brasil há 15 anos, a Veolia tem como clientes grandes multinacionais,
além de empresas públicas no setor de saneamento básico. Com 3 mil funcionários
no País, sua receita em 2005 foi de R$ 202 milhões, com água, energia e
resíduos.
Segundo Faus, um dos nichos de mercado a serem explorados pela Veolia no setor
sucroalcooleiro é a cogeração de energia a partir do bagaço da cana-de-açúcar.
Ele explica que o processo utiliza caldeiras de alta pressão que só podem ser
abastecidas com água de alta pureza. "Caso haja impurezas, há o risco de acúmulo
de resíduos na caldeira, o que pode levar ao seu entupimento ou até mesmo à sua
explosão".
"Dependendo do desejo do cliente, podemos fornecer somente água pura, cobrando
em metros cúbicos. Mas estamos capacitados a garantir o suprimento total de
energia de uma usina, por uma tarifa em reais por megawatt/hora (MWh)", explica
Faus.
Pelo contrato de uma "central de multiutilidades", que normalmente é de 15 anos
(o tempo aproximado de sua depreciação), a Veolia se encarrega do projeto, da
construção e da operação da central. "Os contratos podem prever, ao seu término,
a transferência das centrais às usinas", afirma Faus. "Se o cliente já dispuser
de centrais de cogeração de energia ou de estações de purificação e tratamento
de resíduos, podemos apenas adequá-las e operá-las, para que a usina possa se
dedicar mais à produção de açúcar e álcool".
"A filosofia do negócio é bastante interessante. Mas, como se trata de uma
novidade para nós, ainda precisamos estudar a viabilidade econômica desses
projetos", afirma o engenheiro eletricista Elias Torres Torneli Júnior, da
Companhia Açucareira Vale do Rosário, de Morro Agudo. A Vale do Rosário, além
de produzir energia para consumo próprio - como todas as usinas -, tem grande
excedente, que é vendido à Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
O Grupo Veolia, diz Faus, ainda não tem projeções de quanto o setor pode lhe
render, uma vez que os primeiros contatos começam a surgir agora.
Em sua apresentação a representantes de usinas, o Grupo Veolia mostrou o "case"
do complexo industrial da siderúrgica Arcelor, também de origem francesa, em São
Francisco do Sul (SC). Em agosto de 2001, a Veolia foi a escolhida pela Arcelor
para assumir as engenharias técnica, comercial, financeira, jurídica e ambiental
necessárias ao fornecimento das utilidades de sua planta catarinense. A Veolia
investiu € 35 milhões na central e garante o fornecimento à Arcelor, por um
período de 15 anos, de energia, gases industriais e gás comprimido. Além disso,
responde pelo ciclo completo da água e pelo gerenciamento total dos resíduos
industriais. "Pelo contrato, temos de garantir 98,5% de disponibilidade dessas
utilidades, mas nosso índice supera 99%", afirma Faus. Segundo ele, a Veolia é
responsável até por eventuais processos ambientais que a siderúrgica vier a
enfrentar.
(Edson Álvares da Costa,
Gazeta Mercantil , 12/06/2006)