A Shell Brasil começou a realizar exportações de álcool para os Estados Unidos, aproveitando a forte demanda pelo biocombustível no mercado norte-americano, disse um diretor da companhia.

A empresa, uma das maiores distribuidoras de combustível atuando no Brasil, já fechou embarques de 30 milhões de litros para companhias do próprio grupo nos EUA. O primeiro carregamento de álcool anidro deixou o país na semana passada.

"A gente entende o Brasil como sendo uma fonte supridora estratégica para o programa de biocombustíveis no nível global", afirmou à Reuters no fim da tarde de quinta-feira (8) o diretor de suprimentos da Shell Brasil, Adriano Dalbem, por telefone.

"Nesse momento, estamos focados nos EUA... o grande apelo é a substituição do MTBE", disse ele, referindo-se ao aditivo químico Éter Metil Terbutílico usado na gasolina que, por ser poluente, está sendo substituído por álcool no país.

Dalbem afirmou que a intenção da Shell Brasil, subsidiária da Royal Dutch Shell, é exportar 150 milhões de litros de álcool brasileiro até o fim da atual safra de cana-de-açúcar (maio 2006/abril 2007). Todo o volume embarcado este ano deve ter como destino os EUA.

"Quando entrarmos na próxima safra devemos ter uma definição do novo volume, que vai estar relacionado com a velocidade de implementação do blend nos mercados", disse o diretor da Shell, acrescentando que a operação é nova, mas que ela começou a ser estudada pela empresa em 2005.

Dalbem não informou o valor pago pelo álcool, disse apenas que foi negociado com várias usinas no "nível de mercado". Atualmente, paga-se de US$ 550 a US$ 560 por metro cúbico (mil litros) pelo álcool anidro FOB Santos.

Os embarques estão sendo feitos pelo porto de Santos, em terminais terceirizados. Mas segundo Dalbem, a empresa pode vir a investir em instalações próprias dependendo do volume a ser embarcado nos próximos anos.

Segundo Dalbem, o produto a ser embarcado nos próximos meses será comprado no mercado spot, onde a Shell já atua para adquirir produto comercializado localmente.

As exportações de álcool brasileiro cresceram nos últimos anos com o aumento da produção local e maior demanda internacional, mas até agora os embarques têm sido negociados por usinas utilizando-se de tradings que trabalham com álcool e/ou açúcar e da Petrobras, que é estatal.

Traders afirmam que, nos últimos meses, a procura internacional pelo produto brasileiro tem sido forte, especialmente de compradores nos EUA.

A produção norte-americana do biocombustível está crescendo rapidamente, mas a oferta ainda é insuficiente para atender a procura.

Na safra 2006/07, o Brasil deve exportar de 2,5 a 3 bilhões de litros, conforme expectativas do mercado, volume semelhante ao registrado na temporada anterior. Os embarques só não serão maiores porque não há mais produto excedente.

Outra grande distribuidora multinacional com atuação no Brasil, a Texaco, negou que esteja realizando exportações de álcool para os EUA, mas declarou que "distribuidoras transnacionais" estão sendo sondadas por produtores para realizar embarques.
(Por Inaê Riveras, Reuters, 09/06/2006)
http://noticias.uol.com.br/economia/ultnot/reuters/2006/06/09/ult29u48505.jhtm