Florestas de Florianópolis estão em fase de recuperação
2006-06-12
As florestas de Florianópolis são mais exuberantes do que eram até a década de
1950, embora a área de mata nem fique perto do que havia quando os primeiros
europeus começaram a chegar à região. O grande desmatamento ocorreu após a
chegada dos imigrantes açorianos, entre os anos de 1748 e 1756, quando foram
abertas amplas clareiras para pastagens e plantações, destruição que chegou às
encostas dos morros com a mesma finalidade.
Estudo
Levantamento do Ipuf e do IBGE no início dos anos 90% mostrava 2% a 3% de mata
primária na Ilha "Nossas florestas es-tão mais conservadas e os morros estão
mais verdes, pois a atividade agrícola que havia de-sapareceu, proporcionando a
recuperação da cobertura vegetal", explicou o biólogo Francisco Antônio da
Silva Filho, gerente de unidades de conservação da Fundação Municipal do Meio
Ambiente (Floram). Ele falou com a autoridade de quem estudou o processo de
ocupação da Ilha e acompanha de perto os esforços pela manutenção das
formações florestais remanescentes.
Um exemplo de como eram nossos morros até poucas décadas atrás ainda pode ser
visto no Ribeirão da Ilha, onde as encostas apresentam alguns clarões nos
locais de atividade agrícola, ao lado de capoeiras. "As regiões do Ribeirão da
Ilha e de Ratones, mais afastadas da área central e com acessos difíceis,
continuaram com as atividades de agricultura e pecuária até mais recentemente.
Por isso, as florestas nessas áreas ainda estão em fase inicial de regeneração",
salientou Silva Filho.
Em outros locais, como no Norte da Ilha, onde a atividade tradicional das
populações nativas foi substituída mais cedo pelo turismo, a vegetação teve mais
tempo para se recompor. Estudo feito pelo Instituto de Planejamento Urbano de
Florianópolis (Ipuf) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), de julho de 1990 a fevereiro de 1991, identificou a existência de entre
2% e 3% de florestas primárias. Ou seja, a mata que não sofreu nenhum tipo de
intervenção humana, permanecendo intacta.
Para o biólogo da Floram, "mesmo essas florestas consideradas primárias
sofreram algum tipo de intervenção humana", destacou, citando como exemplo os
morros das regiões do Ribeirão da Ilha e da Costa da Lagoa, onde ainda podem
ser encontradas árvores de grande porte, inclusive exemplares de canela-preta,
peroba e cedro, entre outros. "Essas florestas eram usadas e nelas se praticava
a extração seletiva", afirmou Silva. Havia nestas matas desde árvores até
bromélias, orquídeas e cipós, entre outros produtos, inclusive os medicinais.
Roubo de palmito é freqüente
Essa lenta recuperação das florestas ocorre apesar da prática da caça, da
extração de palmitos e, em menor escala, da retirada de bromélias e das
orquídeas sobreviventes, sem contar a supressão de vegetação para construções e
abertura de estradas. "O que também ocorre com muita freqüência é o corte
baixo", explicou o biólogo Francisco Antônio Silva Filho. Ou seja, a chamada
limpeza, quando a vegetação mais alta é mantida, sendo retiradas as menores.
"É muito difícil acabar com a coleta de palmitos, pois as áreas são muito
ex-tensas e as pessoas procuram agir em silêncio e com discrição", lembrou o
biólogo da Floram. A região sul da Ilha é a mais procurada: a extração teve
início nos morros do Ribeirão, avançando sobre a área protegida do Parque da
Lagoa do Peri. Apesar das investidas da Polícia Ambiental e dos fiscais da
Floram, os responsáveis pelo furto de palmito não foram identificados.
Na década de 1960 houve uma corrida às orquídeas, destinadas principal à
exportação, quando dezenas de pessoas entravam nas florestas em busca das
mudas. Depois que elas sumiram, os catadores também desapareceram. Mais
recentemente voltaram ou-tros, agora interessados em orquídeas e um deles foi
flagrado quando enchia o carro com mudas retiradas da Lagoa do Peri, destinadas
a uma floricultura da cidade.
"A mu-dança da atividade agropecuária para a atividade tu-rística acabou com as
práticas antigas. Hoje sobrevivem alguns criadores de gado e uns poucos
agricultores voltados à subsistência", disse Silva Filho. Segundo o biólogo,
esta foi uma das condições que propiciaram a recomposição florestal. "O que nos
preocupa hoje é a ocupação imobiliária, com a venda de lotes em áreas de
florestas. Mesmo assim, a qualidade da vegetação continua sendo bem melhor do
que havia nas décadas de 1930 e 1940", complementou.
Estudo detalha vegetação
Segundo o estudo do Ipuf/IBGE do início da década de 1990, a cobertura vegetal
de Florianópolis era constituída por pastagens artificiais, vegetação secundária
pioneira, ca-poeirinhas, capoeiras, ca-poeirões, floresta secundária e floresta
primária com "interferência antrópica (humana) parcial". Além disso, também
existia a ve-getação fixadora de dunas, as restingas nas áreas planas e os
manguezais.
As encostas do maciço cristalino (os diversos morros da Ilha), são cobertas
pela Floresta Onbrófila Densa (Floresta Pluvial de Encosta Atlântica). Nas
planícies arenosas do quaternário, "a cobertura vegetal é constituída por
formações de restinga - arbustiva, sub-arbórea ou arbórea, dependendo do tipo
de formação do solo e do uso que se procedeu sobre o mesmo", assinala o estudo.
(Celso Martins, A Notícia, 09/06/2006)
http://portal.an.uol.com.br/ancapital/2006/jun/09/1ger.jsp