Uma operação conjunta da Polícia Federal e da Brigada Militar resultou na
prisão de 14 pessoas ontem (08/06), em dois municípios do norte do Estado. A
Operação Charrua reuniu 650 policiais e teve como alvo principal a Reserva do
Ligeiro, em Charrua, onde vivem cerca de 1,8 mil índios caingangues.
Lá, foram cumpridos 12 mandados de prisão contra indígenas e apreendidas três
armas. Dois comerciantes - um do próprio município e outro de Tapejara - foram
detidos e autuados em flagrante por porte ilegal de arma.
A ação policial foi motivada pela tensão entre dois grupos que lutam pelo poder
na reserva. De um lado, está o atual cacique, Valdecir da Silva, que teve prisão
decretada pela Justiça, mas não foi encontrado ontem. Ele é suspeito de montar
uma milícia armada com aproximadamente 30 integrantes e, com ela, ameaçar e
expulsar os moradores contrários à sua administração.
O grupo liderado pelo ex-vereador Ireni Franco, derrotado há dois anos numa
eleição para cacique no mesmo local, foi expulso da reserva no início deste ano
por Silva e exige a realização de nova eleição.
Ontem, o comboio da polícia, com 95 veículos, dentre os quais cinco ônibus,
partiu de Passo Fundo às 5h e percorreu 60 quilômetros até surpreender os
indígenas ao amanhecer. Um avião Courisco da Brigada também foi utilizado.
Com o comerciante de Tapejara, foram encontrados dezenas de títulos de eleitor,
cartões de aposentadoria e carteiras de trabalho pertencentes aos índios.
Segundo a polícia, o material era utilizado para garantir o pagamento de dívidas
e para assegurar o arrendamento ilegal de terras da reserva, que tem uma área
total de 4,5 mil hectares.
Cacique teria sido avisado e deixado a área
Entre os índios presos temporariamente, estão nove supostos integrantes da
milícia do cacique Silva e outros três pertencentes ao grupo dissidente. Eles
são suspeitos de seqüestro, formação de quadrilha, lesão corporal e porte
ilegal de armas.
Há a suspeita de que informações sigilosas sobre a operação tenham sido
repassadas ao cacique, facilitando sua fuga. Índios afirmaram que um carro da
Fundação Nacional do Índio (Funai) foi visto na reserva na madrugada de ontem.
Instantes depois, segundo os indígenas, Silva deixou o local. O chefe do serviço
de assistência da Funai de Passo Fundo, Paulo Sendeski, afirmou que a operação
foi uma surpresa para o órgão e que desconhece que algum carro da instituição
tenha estado ontem no Ligeiro.
A operação foi acompanhada pelo Ministério Público Federal. Depois de serem
ouvidos pela PF, os 14 presos foram encaminhados ao Presídio Estadual de Erechim.
(Cleber Bertoncello,
Zero Hora , 09/06/2006)