Carvão volta a ter importância na matriz energética do RS
2006-06-09
Depois das térmicas a carvão Jacuí I e Candiota III, que em dezembro acertaram
a venda de energia durante 15 anos, mais duas usinas desse tipo poderão ser
confirmadas no Rio Grande do Sul nos leilões da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), até o fim do ano. Marcada para o dia 29 de junho, a disputa
deverá ter a participação da CTSul, habilitada pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE) - em setembro deve entrar no páreo o projeto Seival.
As quatro usinas têm potência instalada de 1.930 megawatts (MW), o equivalente a
45% da capacidade de geração do Estado. Juntas, elas exigirão investimentos de
US$ 2,41 bilhões, com participação de capitais brasileiros, chineses, alemães e
americanos para começar a produzir energia entre 2009 e 2012, e elevarão a
participação do carvão na matriz energética gaúcha de 11% para cerca de 38%.
As térmicas deverão triplicar a produção do combustível no Rio Grande do Sul,
que detém 89,5% das reservas brasileiras de carvão. Hoje, o Estado produz cerca
de 4 milhões de toneladas por ano, divididas entre a estatal Companhia
Riograndense de Mineração (CRM) e a Copelmi Mineração, mas as novas usinas irão
demandar até 8,8 milhões de toneladas por ano, exigindo o aumento da extração
das minas atuais ou a abertura de novas frentes de exploração.
Só a CRM deverá aumentar a produção de 2 milhões para cerca de 5,3 milhões de
toneladas para atender Candiota III e parte da demanda da CTSul, que também será
suprida por uma mina a céu aberto que pertence à própria empresa. Com isso, a
companhia, que faturou R$ 91 milhões em 2005, prevê dobrar a receita em quatro
anos e investir pelo menos R$ 80 milhões.
A Copelmi, junto com a americana MDU e a brasileira EBX, vai explorar uma nova
reserva para entregar 3 milhões de toneladas por ano à térmica de Seival, da
qual também é sócia. Já a usina Jacuí I receberá o combustível da mina Leão 2,
que pertence à CRM, mas foi arrendada pela Carbonífera Criciúma por 30 anos.
O projeto mais ambicioso é o da CTSul, com financiamento e suporte para
engenharia e montagem da China National Machinery & Equipments (CMEC). O
projeto, orçado em US$ 850 milhões, é para 650 MW de potência, com consumo de
até 2,8 milhões de toneladas de carvão por ano. Descontando o consumo próprio e
a margem de disponibilidade, o montante disponível para venda deve ser de 500
MW a partir de 2009, disse o presidente, Douglas Carstens.
De acordo com ele, o preço inicial de aquisição de energia térmica, fixado em R$
140 por megawatt/hora (MWh) no edital da Aneel para o leilão deste mês, é
positivo porque supera os R$ 116 de dezembro. Da mesma forma como aconteceu no
fim de 2005, quando Candiota III fechou a venda por R$ 129,50 e Jacuí I, por
R$ 129,28, o valor deve ser extrapolado em função da necessidade de energia
futura no país e para garantir a rentabilidade do investimento. "Tem que chegar
a pouco mais de R$ 160", comentou o executivo.
A térmica de Seival, que tem como sócios a Copelmi, a MDU, a Andrade Gutierrez
e a Eletrobrás, deve participar apenas do leilão de setembro em função do prazo
de cinco anos para o início da entrega de energia, disse o superintendente do
projeto, Roberto Faria. "Precisamos de 40 meses para construir a usina porque
há uma grande demanda por equipamentos para o setor em todo o mundo."
O investimento em Seival, cuja potência instalada será de 550 MW, é estimado em
US$ 830 milhões, informou Faria. Segundo ele, o consórcio, liderado pela
Andrade Gutierrez, contratou a Rio Bravo para buscar pelo menos mais um "grande
investidor". O projeto para a construção da usina começou a ser elaborado há
nove anos e teve a participação da alemã Steag, de 2001 a 2004, mas ela se
retirou por causa das indefinições do setor elétrico brasileiro à época,
lembrou o superintendente.
Jacuí I, que terá 380 MW de potência e vendeu 254 MW por 15 anos a partir de
janeiro de 2009, deve começar a ser construída em setembro, informou o
presidente da Eleja, empresa responsável pelo projeto, Júlio Magalhães. Ele
informou que a térmica, que consumirá cerca de 1 milhão de toneladas anuais de
carvão, tem mais 50 MW disponíveis que poderão ser ofertados em setembro deste
ano.
A Eleja, controlada pela alemã Eleja Holding, do grupo MPC Capital, investirá
mais US$ 300 milhões para terminar a usina que começou a ser construída, em
1983, pela Eletrosul e já consumiu cerca de US$ 246 milhões. Em 1999 Jacuí I
foi privatizada e adquirida pela Tractebel, que em 2006 vendeu a operação para
os controladores atuais. Segundo Magalhães, 95% dos equipamentos já foram
adquiridos ao longo dos últimos anos, mas eles deverão ser modernizados e
montados - também devem ser concluídas as obras civis.
A usina Candiota III, controlada pela Eletrobrás, corresponde à terceira fase
da térmica Presidente Médici - com capacidade instalada de 446 MW - e foi
projetada também no início dos anos 80. Paralisada em 1985, começará a ser
construída em julho para entregar os 292 MW, a partir de janeiro de 2010, disse
o presidente da estatal, Sereno Chaise.
Candiota III terá potência de 350 MW e parte dos equipamentos já foi adquirida
e precisa ser modernizada. O investimento será de US$ 430 milhões, financiado
pelo grupo chinês Citic Group e pelo China Development Bank. A negociação já
foi concluída pelo Ministério das Minas e Energia, mas, por ser estatal ainda
falta a aprovação da Secretaria do Tesouro Nacional e do Senado, informou
Chaise.
(Informações de Clima.org.br e Valor Online, 08/06/2006)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=13318&iTipo=6&idioma=1