Um grupo de japoneses formado pela Jetro, a organização oficial de comércio
exterior do Japão e consultores da New Energy and Industrial Technology
Development Organization (Nedo), da Mitsubishi UFJ Securities e da Mayekawa Mfg.
Co., estiveram ontem (08/06) na Fiesc com empresários catarinenses, em busca de
créditos de carbono. No mundo, foram comercializados no ano passado US$ 10
bilhões, Para este ano, a previsão é de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões. O
governo japonês quer iniciar a compra de créditos a partir de julho.
Das 360 mil toneladas de crédito negociadas no mundo, 30% foram do Brasil. Uma
pesquisa da Jetro divulgada em março identificou que 13,8% das indústrias
desenvolvem ou estão em vias de desenvolver projetos relacionados ao Protocolo
de Quioto. Outras 42% não têm iniciativas concretas, mas demonstram interesse
em fazê-lo.
O gerente da Tractebel Energia, Carlos Alberto Gothe, explica que o crédito de
carbono incentiva investimentos com novas tecnologias. "Se com o projeto houver
menos emissão de CO2 que sem ele, terá direito a crédito", diz.
Mercado novo
O diretor vice-presidente da Jetro, Yoshiro Hikota, afirma que o Brasil tem
potencial, mas recém começa a despertar para este mercado. Ele diz que alguns
setores da economia catarinense, como o florestal e de produção de carnes
(biodigestores na produção de suínos) têm potencial para participar de projetos
de crédito de carbono.
Lages (SC) é a primeira cidade a possuir um empreendimento registrado no Comitê
Executivo de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) da ONU e está apta a
vender os créditos de carbono. Ao queimar resíduos de madeira no Planalto, a
unidade de co-geração Lages da Tractebel Energia gera, além de vapor e energia,
uma moeda recente: a RCE (Redução Certificada de Emissões), cujo preço de
mercado varia de US$ 10 a US$ 12 por tonelada. "Os japoneses são compradores
potenciais, mas estamos negociando também com o Banco Mundial e próximos de
fechar contrato para venda de parte destes créditos", diz Carlos Alberto Gothe.
A usina, que consome 15 mil toneladas de resíduos de madeira/mês, demonstrou que
vai reduzir, e em conseqüência, negociar, 220 mil toneladas equivalentes de CO2
por ano. Isso pode gerar receita de US$ 2 milhões/ano. A usina de Lages criou
um mercado para o material de resíduos de madeira na região do Planalto
catarinense. Antes, este material era depositado no solo e liberava o gás metano,
cujo potencial de aquecimento global é 21 vezes maior do que o CO2.
Em todo o mundo, são 172 empreendimentos aptos a negociar emissões de gases
(créditos de carbono). No Brasil, 43 empresas se encontram registradas - a
maioria gera energia com bagaço de cana.
Em fevereiro de 2005, com a entrada em vigor do Protocolo de Quioto, a venda de
créditos de carbono foi oficializada. Hoje, este mercado movimenta as economias
de países desenvolvidos e em desenvolvimento, embora seu objetivo seja reduzir
as emissões de CO2 e outros gases do efeito estufa que aumentam a temperatura
do planeta.
No Protocolo ficou decidido que os países desenvolvidos têm de reduzir em 5%,
até 2.012, suas emissões de gases de efeito estufa, em relação aos níveis de
1990. Para obter estas reduções, eles necessitam implantar projetos em seu
próprio País e/ou comprar RCE de projetos implantados em países em
desenvolvimento que não possuem metas de redução.
(Juliana Wilke,
Gazeta Mercantil , 09/06/2006)