O fio contínuo de um líquido cor de chumbo evidencia o crime à natureza. Nas
duas margens do Rio Itajaí-Mirim - onde está o principal volume da água captada
e distribuída para 200 mil moradores de Itajaí e Navegantes -, canos jorram
esgoto doméstico e industrial.
Somente este ano, a Fundação do Meio Ambiente de Itajaí (Famai) multou nove
empresas e abatedouros clandestinos que vinham poluindo os rios Itajaí-Mirim e
Canhanduba. Outras quatro grandes indústrias estão sob investigação.
Em um passeio de lancha pelo Itajaí-Mirim, a Agência RBS constatou, pelo menos,
10 empresas e centenas de casas localizadas às margens que despejam o esgoto
diretamente no leito. O cheiro forte das valas confirma o descaso. Em tempo de
estiagem e de avanço da água salgada nos rios, a sujeira só piora a situação
da falta de água.
- A presença do sal na água retém os poluentes e não permite a eliminação
completa durante o processo de tratamento - explica o oceanógrafo e diretor de
Educação Ambiental e Unidades de Conservação da Famai, Fabrício Estevo da Silva.
Multas variam de R$ 6 mil a R$ 50 mil
Ao longo do Itajaí-Mirim, tubulações construídas originalmente para escoar água
da chuva trazem junto um líquido escuro, viscoso e mau-cheiroso. As multas
aplicadas pela Famai - que variam de R$ 6 mil a R$ 50 mil, de acordo com o grau
de poluentes -, no entanto, não atingem as residências que desviam o esgoto
doméstico para a tubulação fluvial.
- Depois que tivermos os resultados destes laudos é que poderemos pensar em
políticas públicas para intervir também nas residências - justifica o
coordenador especial da Famai, Luiz Fernando Inácio.
Depois de realizar um mapeamento dos rios Itajaí-Mirim, Canhanduba e do Meio, a
Famai chegou a uma conclusão no final de 2005: as fontes emissoras de poluição
são formadas principalmente por empresas e criadores de suínos desprovidos de
qualquer tratamento de efluentes.
Na tentativa de identificar onde os rios de Itajaí são mais poluídos, a fundação
está realizando um estudo hidríco em 20 pontos, que vai basear, mais tarde,
ações de combate mais específicas.
(Luciana Zonta,
Diário de Santa Catarina , 08/06/2006)