Mata Atlântica corre Perigo no Nordeste, sugere artigo editado pela Cambridge University Press
2006-06-08
Também no Nordeste, principalmente nos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba, a situação da Mata Atlântica, e mais precisamente das espécies de bromélias, está bastante grave. É o que mostra um artigo assinado por dois pesquisadores brasileiros, publicado no periódico Oryx, editado pela Cambridge University Press.
Os professores José Alves de Siqueira Filho, da Universidade Federal do Vale do São Francisco, e Marcelo Tabarelli, da Universidade Federal de Pernambuco, investigaram 535 populações de bromeliáceas e verificaram que tanto nas áreas mais baixas como nas regiões com altitude mais elevada a pressão sobre o grupo de plantas está presente.
“A maior parte das 86 espécies que estudamos foi encontrada em apenas duas ou três localidades. Há muitas espécies endêmicas ameaçadas de extinção das quais sabemos apenas os locais em que foram encontradas pela primeira e única vez”, diz Siqueira Filho, à Agência FAPESP.
“Nas matas de baixada, que desapareceram com a monocultura da cana, as plantas também sumiram, deixando uma lacuna irreparável na compreensão da distribuição geográfica e taxonômica das espécies e também de suas relações com a Amazônia e a Mata Atlântica do Sudeste”, explica o pesquisador.
Nos lugares mais altos, a situação não é diferente. “O caos socioeconômico vivido por cidades da zona da mata de Pernambuco e Alagoas, que consomem lenha, além da caça contínua, também gera grande pressão”, afirma Siqueira Filho.
No Nordeste, quase todas as espécies de bromélias são chamadas popularmente pelo termo “gravatá”. Além da situação crítica detectada pela pesquisa – 24,4% das 86 espécies foram encontradas em apenas uma única população –, a velocidade da destruição também preocupa.
A comparação com dados históricos permite afirmar que, desde 1920, um total de 29 populações de bromélias desapareceram por completo. Apesar dos esforços preservacionistas dos últimos 15 anos, a Mata Atlântica perdeu 10% de sua cobertura original em todo o Nordeste desde 1989.
“A situação é realmente muito grave e, ao mesmo tempo, inusitada”, explica Siqueira Filho. Segundo o pesquisador radicado em Petrolina, no interior de Pernambuco, o grupo ao qual pertence pretende publicar, nos próximos meses, um livro com 18 novas espécies de bromélias, até então não identificadas pelos cientistas. “É a documentação do último suspiro da Mata Atlântica, o que dá uma boa idéia do que se perdeu sem ter sido conhecido de forma suficiente”, afirma.
(Pro Terra, 07/06/2006)
http://www.proterra.org.br/noticias1137.php