O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa)
mal começou a sair do papel e já gera conflito entre a Eletrobrás e os
produtores independentes de energia. Os proprietários dos 144 empreendimentos
incluídos no programa disputam com a estatal o direito aos cerca de US$ 70
milhões que poderão ser gerados inicialmente em créditos de carbono pelas novas
fontes de biomassa, eólica e PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) que
começaram a ser inauguradas em fevereiro deste ano.
Embora esses direitos pertençam à Eletrobrás, que coordena o Proinfa, os
proprietários querem pelo menos a metade dos créditos a serem gerados. A estatal
obteve a propriedade desses recursos pela lei 10.438/2002, que criou o Proinfa.
O assistente da diretoria de Engenharia da estatal, Sebastião Florentino da
Silva, argumenta que os cerca de US$ 70 milhões que calcula como passíveis de
arrecadação em créditos deverão ser usados para abater parte do subsídio que
financia o Proinfa. Dessa forma, o executivo acredita que esses recursos seriam
utilizados em benefício dos consumidores, e não de usineiros e empresários das
usinas.
Criado em 2002, o Proinfa tem por objetivo estimular a incorporação de fontes
alternativas de geração elétrica à matriz energética brasileira. Além de fontes
eólica (a partir do vento), inclui geração a partir de bagaço de cana-de-açúcar
e outras fontes de biomassa. Também prevê usinas do tipo PCH, que dispõem de
capacidade limitada de megawatts (MW).
Como a maior parte dessas fontes produzem uma energia ainda considerada cara
pelo mercado, a viabilidade do programa depende do subsídio de uma parcela das
contas de energia que é destinada à Conta Proinfa. É justamente parte desses
subsídios que a Eletrobrás pretende abater com os recursos dos créditos de
carbono.
Com a alta do petróleo no mercado internacional, e a própria crise do gás
deflagrada pela Bolívia, a energia gerada por essas fontes tornou-se um pouco
mais competitiva – em função da elevação do preço das fontes convencionais –,
mas não o suficiente para prescindir do subsídio, a curto prazo.
Na prática, a lei 10.438/02 prevê que receitas adicionais geradas por essas
usinas deverão ser creditadas em favor dos consumidores. Por meio de um decreto
– 5.025, editado em 2004 –, o governo regulamentou especificamente a destinação
dos créditos de carbono para a chamada Conta Proinfa. O problema, explica Silva
da Eletrobrás, é que o mercado de créditos de carbono, criado a partir do
Protocolo de Kyoto, ainda não estava regulamentado quando a lei foi editada.
Daí o interesse tardio dos empreendedores nesses créditos.
Necessidade de ajustes
Os investidores do Proinfa estão reunidos na Associação Brasileira dos Pequenos
e Médios Produtores de Energia Elétrica (Apmpe). Seu presidente, Ricardo
Pigatto, justifica o pleito ao argumentar que as regras do programa podem
provocar a perda desses recursos. Isso porque, segundo o executivo, o arcabouço
legal que regula o novo mercado de carbono exige que os projetos candidatos aos
créditos precisam ser inscritos antes do início de suas operações nas
certificadoras internacionais. Como boa parte dos projetos começará a operar
até o fim deste mês, não haverá como incluí-los.
"Por ser pioneiro, o Proinfa carece de ajustes", ponderou Pigatto. "O importante
é que os empreendedores solicitem e tenham acesso a esses créditos. Em nosso
entendimento, poderiam ser até divididos meio a meio com a Eletrobrás.
Pigatto fez questão de elogiar, porém, a coordenação do Proinfa pela Eletrobrás.
Desconversou, no entanto, quando perguntado se a Apmpe poderia recorrer à
Justiça para fazer valer o pleito. Executivos do setor acreditam, no entanto,
que a idéia de um litígio judicial não pode ser desprezada, em função do
histórico do setor elétrico brasileiro. Nesse caso, haveria o risco de novos
atrasos na implementação do Proinfa.
Previsto para o início de 2005, o programa teve seu início postergado devido às
dificuldades de financiamento dos projetos. Pelo novo cronograma do governo,
porém, todos os 144 projetos deverão começar a operar até dezembro do próximo
ano. Os empreendimentos só começaram a sair do papel com a entrada do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico de Social (BNDES), que criou uma linha
especial de crédito para financiá-los.
(Ricardo Rego Monteiro,
Gazeta Mercantil , 08/06/2006)