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2006-06-08
Cientistas cubanos se mostram cuidadosos sobre a suposta responsabilidade da mudança climática no aumento da atividade ciclônica na bacia do oceano Atlântico, mas consideram urgente o esforço de adaptação a um clima que será cada vez mais agressivo. O vínculo entre aquecimento global e fenômenos climáticos mais intensos e freqüentes é matéria de polêmica internacional, ao calor de vários anos de fortes e destrutivos furacões na área geográfica compreendida pelo Atlântico Norte, Golfo do México e mar do Caribe, e das previsões de que também 2006 vai superar a média anual de 10 tempestades tropicais por temporada.

Um dos últimos estudos que apontam a mudança climática como responsável pelo maior poder dos furacões, o realizado pelo professor Kerry Emanuel, do norte-americano Massachusetts Institute of Technology, adverte que a intensidade e duração destas tempestades no Atlântico e no Pacífico aumentaram 50% desde 1970. A pesquisa de Emanuel associou esse fenômeno à maior temperatura média da superfície dos oceanos e da atmosfera durante o mesmo período, de modo que poderia estar relacionado com a mudança climática causada pelo acúmulo de gases causadores do efeito estufa na camada de ar que circunda a Terra.

“A energia dissipada pelos furacões está relacionada com a temperatura superficial do mar. O aumento desta na última década não tem precedentes e, provavelmente, seja um reflexo dos efeitos da mudança climática”, disse Emanuel em um artigo publico na revista científica norte-americana Nature, em agosto de 2005. Ramón Pérez, diretor do Centro Nacional do Clima do Instituto de Meteorologia de Cuba, não descarta essa tese. “Penso que Emanuel tem razão, embora ainda não possua a fórmula matemática para demonstrá-lo”, disse em um seminário para jornalistas realizado no final de maio sobre a temporada de ciclones deste ano.

Em sua opinião, a falta de total evidência científica não permite afirmar que a mudança climática seja responsável por um aumento da atividade ciclônica, mas “não se pode descartar” que o aumento atual seja conseqüência das novas condições existentes. Pérez considerou “urgente a ação da comunidade internacional no sentido de modificar seu modelo de desenvolvimento e estilos de vida, a fim de minimizar as causas da mudança climática induzida pela atividade humana”. Os gases que causam o efeito estufa são jogados na atmosfera principalmente por atividades humanas, como a queima de petróleo, gás e carvão.

“Simultaneamente, deve ser adotadas as medidas necessárias para manejar o risco dos ciclones tropicais como uma forma de adaptar-se a um clima futuro mais agressivo”, disse Pérez, que considerou “impressionantes”, os efeitos da mudança climática sobre o ambiente mundial. O impacto da excessiva concentração atmosférica de gases causadores do efeito estufa, como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, inclui um aumento da temperatura dos oceanos e da freqüência e intensidade de fenômenos climáticos extremos. Nas latitudes médias e altas do Hemisfério Norte, as chuvas aumentaram até 10%, acompanhadas de episódios freqüentes, como inundações em certas regiões da Europa, enquanto as secas se intensificaram e foram mais freqüentes na África e na Ásia.

O calor mais forte derrete geleiras e gelos polares, causando a elevação do nível do mar, que foi de até dois milímetros ao ano durante o século XX. De acordo com os dados de Pérez, também é notório que as geleiras estão derretendo mais rapidamente, e o gelo do mar Ártico diminui de espessura, enquanto o habitat de muitas plantas, insetos, pássaros e peixes deslocou para altitudes e latitudes mais elevadas. “Esperar pela evidência científica para agir é um luxo que os governos não podem se permitir, menos ainda em se tratando de eventos extremos que colocam em risco a vida de milhões de seres humanos e custos milionários pela destruição de seus patrimônios, que podem ocorrer em apenas questão de horas”, afirmou.

Para Maritza Ballester, pesquisadora do Centro de Previsões dessa instituição, ainda não se pode “dar com positivo que o aumento em quantidade e intensidade dos furacões ocorra pelo aquecimento global como tal. Continuo crendo no critério de que isto se deve a processos cíclicos. Me mantenho conservadora a respeito”, disse à IPS Ballester, co-autora do modelo cubano de previsão da atividade ciclônica no Atlântico, junto com Pérez e a meteorologista Cecília González. Pérez também recordou que o comportamento dos ciclones tropicais apresenta variações naturais em escala de décadas, que podem ser muito grandes em algumas regiões como o oceano Atlântico.

Isto significa que períodos de alta e pouca atividade ocorrem no tempo, o que torna muito difícil concluir se a freqüência dos furacões está mudando, afirmou Pérez. Ballester, por sua vez, confirmou a previsão cubana de 15 tempestades tropicais para toda a região na temporada que começou em 1º deste mês e vai até 30 de novembro. Nove delas poderiam chegar à categoria de furacão.”Existe 74% de probabilidade de que pelo menos um furacão passe por Cuba”, acrescentou. Das 15 tempestades, 10 surgiriam em águas do Atlântico norte, três o Golfo deo México e dois no mar do Caribe.

Se a previsão se cumprir, esta seria a nona temporada consecutiva a superar a média anual histórica de 10 tempestades tropicais com nomes, isto é, com circulação rotativa e ventos de mais de 63 quilômetros por hora. Os meteorologistas cubanos coincidem em que a atividade ciclônica será estimulada pelo aquecimento da superfície do mar no Atlântico e pelo predomínio de condições propícias na circulação do vendo na estratosfera (camada superior da atmosfera), entre 21 e 24 quilômetros, entre outros fatores. O eventual aumento da temperatura oceânica poderia elevar a quantidade de ciclones tropicais de ventos entre 63 e 117 quilômetros por hora, com 15 delas passando à categoria de furacões.

A tempestade tropical se transforma em furacão quando seus ventos são de 118 quilômetros por hora, ou mais. Segundo a intensidade de seus ventos, a escala de Saffir-Simpson divide os furacões em categoria um (ventos máximos mantidos entre 118 e 153 quilômetros por hora), dois (entre 154 e 177 km/h), três (de 178 a 209 km/h), quatro (de 210 a 250 km/h) e categoria cinco (mais de 250 km/h). O Instituto de Meteorologia de Cuba estimou que pela ação destas tempestades em toda a bacia atlântica morreram 3.570 pessoas no ano passado, um número que pode ser muito inferior ao real, devido à informação ainda inexata das vítimas causadas pelos furacões Katrina, em agosto, nos Estados Unidos, e Stan, em outubro, na América Central.
(Envolverde, 06/06/2006)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=13275&iTipo=5&idioma=1

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