Variação climática e efeito estufa secam os rios e isolam o Juruá (AC)
2006-06-07
A navegação do Rio Juruá, estratégica para a agricultura e o transporte coletivo nas cidades do noroeste acreano, está prejudicada e deve ser reduzida pela metade nos próximos dias.
Tudo graças à estiagem, que em 2006 chegou bem mais cedo que nos últimos anos. A falta de chuvas no Juruá pegou de surpresa até os meteorologistas, que atribuíam as últimas estiagens às derrubadas.
Como é exatamente nas proximidades do Rio Juruá e de seus afluentes, onde está a maior parte das áreas protegidas do Acre, como reservas, terras indígenas e parques florestais, o problema acaba de ficar mais complexo.
Por enquanto, a única explicação culpa uma combinação entre o efeito estufa - um fenômeno mundial - e um ciclo de estiagens prolongadas na Amazônia Ocidental. O ciclo se repete a cada 50 ou 100 anos. A explicação é do geoquímico Irving Foster Brown, pesquisador do Parque Zoobotânico da Ufac. Brown, um dos principais pesquisadores dos ciclos de estiagem e de chuvas da Amazônia, soube pela reportagem da seca no Rio Juruá.
"As razões disso não podem ser atribuídas sem um estudo no local, mas há dois grandes fatores. Um é a variabilidade climática, a cada 50 ou 100 anos. O outro é o efeito estufa, mas não há como detalhar este fenômeno", disse.
Brown descartou ainda, como causa da estiagem no Juruá, um novo aquecimento das águas no Atlântico. No ano passado, o aquecimento foi apontado como um dos principais elementos da falta de chuvas que causou uma vazante recorde no leito do Rio Acre.
Desde então, autoridades, associações e cientistas elaboraram um cronograma de ações para evitar a volta do caos.
Enquanto isso, embarcações de calado médio já não podem mais trafegar em diversos trechos do Rio Juruá. A escassez de alguns itens da cesta básica, principalmente algumas espécies de pescado, também pode ser notada em Cruzeiro do Sul.
Uma estiagem prolongada no Vale do Juruá pode inviabilizar não só o transporte e o escoamento de produtos agrícolas. O recuo das águas subterrâneas, que obrigaria o Estado a racionar a distribuição de água, seria agravado pela falta de rodovias na maior parte das cidades, que inviabilizaria o transporte e o socorro de desidratados, por exemplo.
Nessa conjuntura, com economias predominantemente rurais e altamente dependentes dos rios e dos ciclos de chuvas, as cidades poderiam viver uma catástrofe caso tivessem que enfrentar epidemias, como a do rotavírus que castigou Rio Branco na estiagem do ano passado.
Elaborado com o auxílio de 18 órgãos públicos, de associações e de ONGs, o documento Plano de Prevenção, Combate e Alternativas ao uso do Fogo 2006 não incluiu ações específicas para o Vale do Juruá embora mencione parcerias com diversas prefeituras. Junto do aquecimento das águas do Atlântico, as queimadas são consideradas as principais vilãs do clima amazônico.
(Por Josafá Batista, A Tribuna, 06/06/2006)
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