Madeira do Ibama - Saques prosseguem pelo terceiro dia
2006-06-07
Pelo terceiro dia consecutivo, prosseguiram ontem os saques ao depósito de madeiras apreendidas do Ibama, no posto do trevo do Lagarto, em Várzea Grande. A Polícia Ambiental foi acionada pela manhã, mas até o início da noite ainda havia uma multidão com cerca de 200 invasores no local. Charretes, caminhões e carriolas estão sendo utilizados pelas pessoas para carregar o material.
O superintendente do Ibama, Paulo Maier, solicitou ontem à presidência nacional do órgão, em Brasília, a formalização de um pedido de apoio à Polícia Militar, para conter os furtos. Segundo Paulo, sempre houve pequenos roubos de cargas estocadas no local, mas que eram controlados pela própria vigilância. Esta é a primeira vez que o Ibama é invadido por um número tão grande de pessoas.
A maioria dos participantes das invasões é formada por moradores das regiões próximas ao posto. Mas o superintendente cogitou a possibilidade de algumas empresas, do ramo madeireiro, estarem incentivando os ataques e pagando preços baixos pela mercadoria furtada. "Existem algumas pessoas que querem tábuas e vigas para fazer pequenos reparos em casa. Mas não descartamos a hipótese de empresas estarem envolvidas nas ações. Estamos investigando", disse.
Assim que o Ibama controlar a situação, a madeira que restar será removida do local. "Já detectamos que não dá para continuar estocando as apreensões lá", afirmou Paulo Maier. Ele preferiu não divulgar os locais para onde o material será levado por motivo de segurança.
Segunda-feira à noite a Polícia Militar teve de ser acionada mais uma vez para conter os saques. Um caminhão foi apreendido. As pessoas que forem identificadas como participantes das ações responderão a processo judicial por furto.
Os saqueadores alegam estar havendo desperdício da madeira, que está exposta ao sol e à chuva há muito tempo. O Ibama não nega que muita madeira chega a estragar no local, mas que isso acontece por causa da demora dos trâmites processuais. Depois da apreensão, é elaborado o auto de infração, realizado o julgamento, e geralmente os acusados entram com vários recursos contra a decisão. A madeira pode ter dois destinos depois do julgamento. Se não for comprovado crime ambiental e nem infração administrativa, volta para o dono. Caso contrário é doada para entidades que solicitam ao Juizado Volante Ambiental (Juvam). Mas enquanto o material aguarda a conclusão do julgamento, fica estocado na maioria das vezes em locais inadequados.
Nos fundos da Delegacia Especializada na Defesa do Meio Ambiente, localizada no Carumbé, também há uma área aberta para armazenar cargas de madeira apreendidas.
Segundo um funcionário, cerca de 200 metros cúbicos de madeira estão guardados no espaço. Apenas um policial é responsável pela proteção do local, e mesmo depois das invasões em massa ao Ibama, a segurança não foi reforçada.
Das centenas de pessoas que saquearam o depósito de madeira do Ibama no trevo do Lagarto nos últimos dias, apenas o motorista Gleydson Marcelo Assunção, de 20 anos, está preso. A prisão aconteceu no sábado à tarde. No momento da chegada dos policiais militares, havia mais de 50 pessoas no local e somente Gleyson foi detido. As demais conseguiram escapar. Ele dirigia um caminhão carregado com madeira.
Na Delegacia Regional de Várzea Grande, Gleyson disse que emprestou o caminhão para buscar madeira, a exemplo de outros vizinhos, do Jardim dos Estados. Levou algumas pessoas, que ajudaram a carregar várias tábuas. Por volta das 14 horas, policiais militares do Batalhão Ambiental chegaram ao local. "O caminhão é do pai do rapaz, que trabalha com frete", disse um policial plantonista.
No domingo, os saqueadores voltaram ao depósito, mas ninguém foi preso. A Polícia Militar calcula que cerca de 200 pessoas estavam no local pegando madeira. Os Pms, no entanto, agiram diferente dos colegas do sábado. Alegaram que esperavam uma ordem do Ibama e, por isso, permitiram que a madeira fosse levada.
O delegado federal Eduardo Rogério dos Santos esteve no local com três agentes, mas os saqueadores não estavam mais por lá. "Quem for pego com madeira será autuado em flagrante por furto", afirmou.
(Diário de Cuiabá, 06/06/2006)
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