UHE-Estreito -Avanço da soja e carvoarias explica cerco aos índios
2006-06-07
Produtores de carvão vegetal, soja e eucalipto comandam por trás do pano uma onda de agressões e ameaças contra o povo guajajara da terra indígena Bacurizinho, no município de Grajaú (MA), a 600 km de São Luís. O ápice da violência aconteceu dia 21, quando dez homens armados invadiram a aldeia Kamihaw, assassinaram o cacique João Araújo, feriram a bala um de seus filhos e ainda estupraram uma moça de 16 anos. At agora somente um dos participantes do ataque está preso, Milton Alves, apelidado Milton Careca. Os outros continuam ameaçando os indígenas e missionários que os defendem.
Essas informações foram reafirmadas há poucos dias pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e pela regional Nordeste 5 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Contrapõem-se à atual “campanha de mídia” contra os guajajara, apresentados por alguns como irracionais e perigosos (veja nota do Cimi na seção ‘Diálogo’). Há muitas notícias sobre bloqueio de estradas, captura de caminhões de carga e at seqüestro de viajantes. Raramente se mencionam as causas da irritação guajajara.
Uma delas é a indefinição dos limites dessa área indígena, que favorece a ambição de grileiros. Nos anos 80 foram demarcados 82.432 hectares, mas os guajajara, apoiados pelo Cimi, por especialistas da Funai e estudiosos independentes, mantiveram a reivindicação histórica de 145 mil hectares. Em 2001, depois de vários incidentes de violência entre índios e não-índios, começou um processo de revisão dos limites da área, sob a coordenação da antropóloga Leslye Bombonatto Ursini, ainda inconcluso
Na avaliação do Cimi, há uma nítida relação entre o avanço da soja, do eucalipto e da produção de carvão vegetal e o incremento das hostilidades. “Coincidentemente, após a vinda destes grupos, os indígenas começaram a receber prazos para deixar a área em litígio”, assinala um documento do órgão. Antes do ataque à aldeia Kamihaw, dois índios da área Bacurizinho, Antônio Leão e Valdomiro Guajajara, já haviam sido assassinados, o primeiro deles em 1979, sem que os autores e mandantes desses crimes tenham sido identificados até hoje.
Os guajajara (também chamados tenetehara) são a maior etnia indígena do Maranhão. Dos 18 mil índios do Estado, 14 mil são guajajara, distribuídos em seis áreas situadas nos municípios de Amarante, Arame, Barra do Corda, Bom Jardim e Grajaú.
(Carolina, Maranhão News, 06/06/2006)
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