Segunda-feira à tarde (04/05), enquanto o vento sul soprava no Pântano do Sul, na Ilha de Santa
Catarina, três adolescentes caminhavam na praia. Recém-chegados da Suécia,
onde representaram o Brasil em evento mundial sobre jovens e meio ambiente,
realizado em Gotemburgo, os garotos avaliavam a viagem.
Dificuldades em dominar a língua inglesa à parte, a colocação em quarto entre os
10 primeiros lugares e os aplausos recebidos orgulham os meninos. Para jovens
de países como Japão, Canadá, Inglaterra, Grécia, Turquia, Índia e Alemanha, os
manezinhos ensinaram: é possível, para a juventude de pequenas comunidades
pesqueiras, permanecer no seu lugar de origem. Porém, não mais centrada na
pesca artesanal, que enfrenta colapso mundial. A estratégia é desenvolver ações
de turismo de base.
- Nós não queremos mais mostrar o peixe morto. Mas vivo - conta Leonardo Ledani
de Oliveira, 13 anos, aluno da oitava série.
Leonardo foi um dos cinco adolescentes que estiveram na Suécia e que participam
do Projeto Estrelas do Mar, desenvolvido pelo Instituto Ilhas do Brasil. A
organização tem apoio de entidades internacionais, é coordenada pelo biólogo e
doutorando Alexandre Costa e foi finalista do Prêmio Volvo Adventure. Ao todo
foram analisados 350 projetos.
- Os jovens deixam as comunidades pesqueiras não por vontade própria, mas por
falta de alternativas, pois ninguém mais quer saber da pesca, que está perto
do fim - avalia Rafael Genesio Capistrano, 15 anos, aluno da oitava série.
Natã Edemilson de Oliveira, 14 anos, também da oitava série da Escola
Fundamental Severo Honorato da Costa, diz que pretende continuar morando "neste
paraíso". Para isso, sabe, tem que ajudar as pessoas a se conscientizarem sobre
a necessidade de preservação dos recursos.
Os 20 jovens envolvidos no projeto coordenam e participam de atividades ligadas
à conservação da natureza e ao turismo comunitário: passeio nas trilhas,
mergulho, caminhadas no costão, venda de produtos (camisetas, quadro, bonés e
artesanato feitos nas oficinas), explicações sobre a cultura, história e
tradições do Pântano do Sul.
A finalidade não é assistencial. Por isso, os jovens decidem sobre preços,
valores, aplicação dos recursos, número de participantes. A manutenção do
projeto é de R$ 25 mil. A sede do instituto localiza-se a poucos metros da
praia.
- Por 40 anos, aqui funcionou uma peixaria. Desativada, ficou por um ano para
ser alugada. Os adolescentes, que em sua maioria são de família de pescadores,
entendem isso como um aviso sobre o risco da atividade - alerta o biólogo
Alexandre Costa.
(Ângela Bastos,
Diário Catarinense , 06/06/2006)