A ONU divulgou recentemente, em seu relatório anual, projeções sobre o futuro
da água. A previsão é que, em menos de 50 anos, mais de 45% da população mundial
não terá acesso mínimo ao recurso. Apesar de termos a impressão de que a água
está desaparecendo, sua quantidade no planeta não se alterna há centenas de
milhões de anos. No entanto, o que muda é sua distribuição e seu estado – dados
atuais revelam que cerca de um bilhão de pessoas já não são abastecidas por
água.
Em face das elevadas quantidades consumidas e também por causa da alteração da
sua qualidade, começaram a ser adotadas novas tecnologias industriais para a
reutilização e a reciclagem da água. Além disso, devido a fatores como consumo
excessivo e poluição ou contaminação, que reduzem o volume aproveitável em todo
o mundo, estão sendo elaborados programas de gerenciamento da água em vários
países, inclusive no Brasil, mas ainda de forma incipiente.
O Brasil detém 11,6% da água doce superficial do mundo, sendo privilegiado em
termos de disponibilidade hídrica global. Esse número deve ser encarado com
reserva, pois a distribuição aqui também é muito irregular. A Amazônia – com 70%
da água disponível para uso no País – é a região mais rica em água potável
superficial de todo o planeta e está muito distante dos grandes centros urbanos
nacionais. Para ter uma idéia, a Sabesp adotou, recentemente, um plano de
captação de água em locais afastados da capital paulista, o que aumenta o custo
da viabilização do recurso para a população. Os 30% restantes distribuem-se
desigualmente pelo território nacional para atender 93% da população.
Ainda de acordo com o relatório anual da ONU, a agricultura é a maior ameaça às
reservas de água doce do planeta. O documento afirma que cerca de 2/3 da água
doce proveniente de aqüíferos e outros rios são consumidos por fazendas, que
aumentam o uso da água nas plantações à medida que a população mundial aumenta.
No Brasil, o uso da água na agricultura representa 61% do total, contra 8% do
uso residencial.
Alguns setores industriais afetam a qualidade da água que, se for restituída aos
meios naturais sem tratamento prévio, além de não poder ser reutilizada,
torna-se altamente nociva ao ambiente. Freqüentemente, inúmeras soluções surgem
para gerir sua utilização e integrar-se na política de desenvolvimento
econômico-social do País. Todas, no entanto, precisam da adesão da comunidade e
da conscientização de todos, tanto no âmbito político e técnico quanto no
social. E é nesse sentido que se torna imprescindível uma atuação mais eficaz
dos nossos governantes nesse setor.
* Vlamir Paes é presidente da EcoAqua
(
Gazeta Mercantil , 06/06/2006)