Fiscalização nas florestas do País – Artigo *
2006-06-06
A modernização dos sistemas de acompanhamento do transporte de produto florestal
no Brasil, com a introdução, a partir de 1 de junho, de um documento eletrônico
em substituição a autorização em papel, poderá ajudar na fiscalização das
madeiras extraídas das florestas brasileiras. O novo modelo trará transparência
aos processos, já que informações como volume, origem e rota dos produtos
florestais serão preenchidos pelos madeireiros via internet.
Com essa medida, o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama começam a pôr ordem no negócio da extração
de madeira. E já não era sem tempo – o setor de madeira processada representa
4,1% do PIB e é responsável por 6,5 milhões de empregos, segundo a Associação
Brasileira das Indústrias de Madeira Processada Mecanicamente.
Controlar o transporte de madeira ilegal é uma medida necessária e urgente. Usar a
tecnologia a favor da preservação e contra a máfia da exploração florestal é uma
boa saída, mas não deve ser a única. O modelo ideal de acompanhamento deve
começar antes da extração, antes de a árvore ser derrubada.
Para evitar o desmatamento ilegal, o governo pode (e deve) investir em outras
alternativas. Uma delas passa pelos processos de certificação. O selo verde –
um certificado que assegura a utilização de sistemas de exploração sustentável
de florestas – não chega a ser uma novidade, mas ainda atinge um número pequeno
de propriedades no País. Apenas 3,57 milhões de hectares de florestas
brasileiras tinham conquistado o certificado em 2005, segundo dados do Conselho
Brasileiro de Manejo Florestal, o FSC (Forest Stewardship Council). A entidade
pioneira na implantação de sistemas de certificação florestas em nível mundial
surgiu em 1993 em resposta ao uso não-planejado das florestas e à conseqüente
degradação acelerada de áreas naturais. O processo conquistou rapidamente os
países desenvolvidos, sobretudo na Europa e na América do Norte. No Brasil, a
área de florestas certificadas já evoluiu muito – cresceu 147% em dois anos –,
mas ainda é pequena. Até 2005 o FSC tinha concedido o selo para 68 florestas e 188 cadeias de
custódia, pondo o País na liderança mundial em número de certificações onde há
rastreabilidade da matéria-prima.
Além do FSC, o Cerflor, programa nacional
desenvolvido pelo Inmetro, é outra possibilidade para as empresas brasileiras
demonstrarem seu compromisso com a conservação dos recursos naturais. Existem
dois tipos de certificação: para a madeira (avalia o manejo madeireiro) e para
o produto final (avalia o processo produtivo).
Exibir o selo verde é um diferencial, uma vez que comprova que ambas as
atividades econômicas ocorreram preservando-se as florestas. Isso significa que
as empresas exploradoras possuem sistemas de manejo ambiental adequados,
socialmente benéficos e economicamente viáveis.
Os consumidores também podem auxiliar nesse processo. O consumo consciente, ou
seja, a escolha de fornecedores que exibem o selo verde, ajuda a evitar o
desmatamento. Hoje, o selo é exigido por importadoras da União Européia porque
lá os consumidores têm consciência da força de suas escolhas. Sem incentivos do
governo, porém, o ato de certificar florestas ainda enfrenta muita resistência.
O processo tira competitividade das empresas que cumprem a lei porque torna a
extração mais cara e burocrática, considerando a grande parcela daquelas que
atuam na ilegalidade.
O governo precisa intensificar a fiscalização, mas também incentivar a
certificação. É urgente valorizar as empresas que respeitam normas nacionais e
internacionais e se preocupam em alinhar suas práticas à exploração sustentável
das florestas. Se nada for feito nesse sentido, não serão formulários digitais
que irão combater a madeira ilegal. kicker: O modelo ideal de acompanhamento
deve começar antes da extração da madeira – antes, enfim, de a árvore ser
derrubada.
* Maurice Politi é presidente da SGS do Brasil
(Gazeta Mercantil, 06/06/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/pt/opiniao/coluna.aspx?ID_NOTICIA=162631830