Aterros de lixo inativos dão gastos e oferecem riscos
2006-06-06
Uma atualização inédita das informações sobre os aterros de lixo da cidade de São Paulo mostra que algumas destas áreas, mesmo fora de operação, ainda representam riscos de contaminação. Segundo o geógrafo Otávio Cabrera de Léo, o município apresenta cinco aterros potencialmente poluidores que, mesmo desativados há pelo menos 20 anos, ainda produzem o chorume (líquido que resulta do armazenamento de lixo orgânico) e o metano (gás tóxico produzido na degradação da matéria orgânica), devido ao volume de lixo armazenado. “O gás e o chorume podem contaminar as regiões do entorno”, alerta.
De acordo com o geógrafo, é preciso verificar se a produção desses materiais está estabilizada e, no caso do chorume, escoá-lo para uma espécie de piscina para que ele receba tratamento. "Ainda hoje, esses aterros oneram os cofres públicos com serviços de manutenção e vigilância voltados para o controle ambiental", aponta o pesquisador. "Só em 2004 foram gastos R$10 milhões para fazer a sua manutenção e controle". De Léo fez do lugar do lixo em São Paulo o tema de seu mestrado pela Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Sociais (FFLCH) da USP. Ao todo, ele analisou a situação dos 15 aterros oficiais localizados no município, existentes entre 1975 e 2004.
Riscos
Vila Jacuí, São Mateus, Sapopemba (Zona Leste), Vila Albertina (Zona Norte) e Santo Amaro (Zona Sul) são aterros encerrados que ainda estão em manutenção. O fato de o entorno dessas áreas ser ocupado por residências torna a situação ainda mais delicada, devido aos riscos de contaminação.
Segundo De Léo, no Santo Amaro a situação não é tão crítica, pois a região é ocupada principalmente por indústrias. Mas existe, nas proximidades, o aterro Itatinga, cujas complicações são maiores. Localizado próximo a um dos braços da Represa Billings, o "depósito" foi construído para receber resíduos da construção civil e encerrado em 2004. Contudo, ao longo de todo o ano retrasado, recebeu lixo orgânico de forma clandestina. "Existe uma população vivendo muito próxima dali e de maneira bastante adensada, numa situação de risco, pois ele não foi projetado pra esse tipo de armazenamento", explica o pesquisador.
Para aprofundar essa questão sócio-espacial, De Léo relacionou a localização dos aterros a casos de leptospirose. Uma boa parte dos casos foi identificada em regiões próximas ao destino de lixo, como no caso dos aterros Santo Amaro, Sapopemba, Bandeirantes, Vila Albertina, Vila São Francisco e Lauzane Paulista. Mas o pesquisador ressalva que também existem casos em locais não associados diretamente aos aterros. Os dados de focos da doença são de 2002 e provêm da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) e da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Prefeitura de São Paulo.
Entre vivos e mortos
De Léo chama a atenção também para os outros aterros que não estão nessa situação "vegetativa". O Bandeirantes (Zona Norte) e o Sítio São João (Zona Leste), que são os aterros em operação na cidade, funcionam no limite da capacidade. "A vida útil deles já foi prolongada por cinco anos e eles devem ser encerrados no final desse ano", explica o geógrafo. Apesar de serem considerados sanitários, pois são impermeabilizados por uma manta de polietileno que isola o chorume, esses aterros não podem trabalhar além do limite.
Em contrato assinado com a administração municipal no final de 2004, uma das concessionárias responsáveis por esse destino de lixo no município ficou encarregada pelos dois novos aterros que deverão substituir o Bandeirantes e o Sítio São João. Contudo, De Léo acha provável que o funcionamento desses aterros seja prolongado por mais um ano, superlotando-os ainda mais. "Dificilmente os contratos serão cumpridos dentro do prazo estipulado."
Os sete aterros restantes localizados na capital se encontram desativados e controlados. São locais que tiveram vida útil mais curta e com uma carga de resíduos menor. Mas o geógrafo diz que não se pode ter certeza desse controle. "Não se sabe exatamente se essas áreas receberam a impermeabilização necessária."
Os dados sobre esses destinos de lixo foram extraídos do Departamento de Limpeza Pública Urbana (LIMPURB), ligado à Secretaria de Serviços e Obras (SSO), e de relatórios de outras Secretarias da Prefeitura durante a gestão Marta, tais como a Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA) e a Secretaria Municipal de Governo (SGM).
Por Aline Moraes, Envolverde/Agência USP, 02/06/2006.