Gols verdes na Copa do Mundo: grupos ecologistas consideram medidas insuficientes
2006-06-06
Com o programa Gol Verde, os organizadores da Copa do Mundo 2006 tentam reduzir o impacto ambiental causado por esse torneio que, entre 9 deste mês e 9 de julho, reunirá mais de três milhões de torcedores na Alemanha. Entretanto, grupos ecologistas consideram que as medidas adotadas não são suficientes. Economia de água, reciclagem de lixo e redução de emissões contaminantes na atmosfera, por meio do uso de transporte público e fontes limpas de energia, são algumas metas do Green Goal (Gol Verde ou Objetivo Verde), implementado pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e o governo alemão.
Nos 12 estádios, onde 32 seleções medirão forças na arte do futebol, serão usados tanques de recuperação de água da chuva para abastecer instalações sanitárias. Em alguns casos, nos banheiros masculinos os urinóis serão limpos automaticamente, sem uso de água. Com a intenção de reduzir o uso do automóvel, os bilhetes para os 64 jogos também valem para os serviços públicos de transporte durante 24 horas. Em alguns estádios, como o Fritz-Walter, na cidade de Kaiserslautern, a eletricidade é gerada por células solares, como também em estações ferroviárias e outros locais públicos.
No total, a geração de energia solar para o Mundial corresponde a cerca de 2,5 mil quilowatts nas horas de pico. Nas Olimpíadas de Sydney, na Austrália, em 2000, a capacidade instalada foi de apenas mil quilowatts. Nas cidades que abrigam os 12 estádios, indicações em diversos idiomas sugerem aos visitantes como reduzir o lixo. Por exemplo, em lugar de garrafas ou latas descartáveis, as bebidas serão vendidas em recipientes recicláveis. Com o Gol Verde, o Mundial 2006 será o segundo acontecimento esportivo global a aplicar critérios de proteção ambiental. O primeiro foi Sydney. Apesar destes esforços, o Gol Verde não compensa toda a contaminação provocada pelo torneio.
Segundo o Instituto Alemão de Ecologia Aplicada, que concebeu o programa, apenas os vôos e os trajetos locais dos 3,2 milhões de turistas que visitarão a Alemanha durante o Mundial representam cerca de cem mil toneladas de dióxido de carbono (principal gás causador do efeito estufa, responsável pelo aquecimento do planeta). Para neutralizar estas emissões, a Alemanha investiu US$ 1,5 bilhão em projetos de proteção ambiental na África e na Ásia. Por exemplo, no contexto do Gol Verde financiou instalações na Índia que produzem biogás a partir de esterco de vaca fermentado, para substituir o uso de combustíveis fósseis em cozinhas comunitárias.
Entretanto, o programa não satisfaz a todos os ambientalistas alemães, os quais, inclusive, criticam a empresa Nici por usar um produto químico perigoso na fabricação do mascote da Copa do Mundo, o Goleo, um leão vestido de jogador de futebol. A companhia desmentiu a denúncia feita nos últimos dias pelo grupo alemão Okotest, que examina a segurança de produtos de consumo. “Acreditar que os efeitos ambientais destrutivos de um torneio mundial podem ser 100% compensados é uma ilusão”, disse ao Terramérica Rüdiger Rosenthal, da Federação para a Proteção da Natureza e o Meio Ambiente (Bund, sigla em alemão).
Rosenthal destaca que o balanço oficial ambiental do Mundial 2006 subestima as emissões de dióxido de carbono provocadas pelos vôos comerciais extraordinários que transportam equipes, convidados de honra e turistas. Em lugar das cem mil toneladas desse gás estimadas oficialmente, os ambientalistas calculam que os transportes associados com o torneio emitirão cerca de 250 mil toneladas. As contas oficiais de proteção ambiental tampouco incluem os custos suplementares derivados das transmissões internacionais de televisão nem, em geral, o consumo adicional de eletricidade associado ao Mundial, disse Rosenthal.
Em seu número mais recente, a revista alemã Neue Energie afirma que apenas um dos 12 estádios – o Frankenstadion, na cidade de Nuremberg – atende a todos os critérios de respeito ambiental. E também elogia os esforços feitos em Dortmund, Hamburgo e Stuttgart. Os outros oito estádios, afirma, mostram um balanço ecológico negativo. Em geral, diz a revista, “o Gol Verde só compensará a metade das emissões suplementares de dióxido de carbono durante o Mundial”. Entretanto, “um balanço real poderá ser feito somente depois” do torneio, disse ao Terramérica Christian Hochfeld, vice-diretor do Instituto de Ecologia Aplicada.
Durante a Copa do Mundo, “a Alemanha importará energia da Suíça, gerada em suas centrais hidrelétricas, que não contaminam o meio ambiente”, disse Hochfeld. “Pelo menos, o Gol Verde procura conciliar o evento com a proteção ambiental”, acrescentou. Hochfeld também destacou que os esforços para reduzir o consumo energético durante o torneio incluem recuperar calor das instalações de aeração de todos os estádios e utilizar caldeiras de gás altamente eficientes e sem emissões, bem como lâmpadas de baixo consumo.
Para o presidente da Fifa, Joseph Blather, os benefícios do programa são indiscutíveis. “A contribuição do Mundial para a proteção ambiental e da natureza na Alemanha será duradoura, permitindo aos jogos da Bundesliga (liga federal alemã de futebol) reduzir substancialmente a contaminação”, disse Blatter em uma entrevista coletiva.
(Por Julio Godoy, Envolverde, 05/06/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=18110