Transmissão de gripe aviária entre humanos pode ser maior do que se afirmou
2006-06-05
Em meio a casos de gripe aviária que mataram sete membros de uma família rural Indonésia, parece provável que muito mais
infecções tenham acontecido entre humanos do que as autoridades reconhecem. Os números ainda são relativamente
pequenos e eles não significam que o vírus tenha mutado para ser mais facilmente transmissível entre pessoas – uma
mudança que poderia indicar uma epidemia mundial. Todos os núcleos de casos atingem parente ou enfermeiras que tiveram
contato próximo com os pacientes.
Mas esses núcleos – na Indonésia, Tailândia, Turquia, Azerbaijão, Iraque e Vietnã – pintam um quadro sombrio sobre o
potencial do vírus em ser transmitido de humano para humano do que o normalmente descrito pelos oficiais da saúde
pública, que geralmente afirmam que este são raros. Até recentemente a Organização Mundial de Saúde afirma ter havido
apenas dois ou três casos como estes. No dia 24 de maior a doutora Julie L. Gerberding, diretora do Centro de Controle e
Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, estimava que haviam acontecido “pelo menos três”. Então, no dia 30 de maior,
Maria Cheng, porta-voz da OMS disse que havia “provavelmente uma dúzia”.
O doutor Angus Nicoll, chefe das atividades da gripe do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, reconheceu
que “nós provavelmente menosprezamos a extensão da transmissão de pessoa para pessoa”. Diversos casos normalmente
citados, segundo ele, são “apenas os primeiros e últimos”, como a infecção de enfermeiras em 1997 em Hong Kong e do
homem de Bangkok que morreu em 2004 depois que sua filha adoeceu na fazenda de uma tia.
A maioria dos núcleos da doença são difíceis de se investigar, ele afirmou, por que podem não se perceptíveis até que a
vítima seja hospitalizada e são geralmente em vilas remotas onde as pessoas temem falar a respeito. Também, segundo ele,
até os médicos de Genebra chegarem a esses locais para colherem amostras as autoridades locais “já mataram as aves e
cobriram tudo com cal”. Diversos cientistas perceberam que há muitos núcleos nos quais a transmissão entre humanos pode
ser uma explicação mais lógica do que a idéia de que parentes que ficam doentes com uma diferença de dias pegaram o
vírus da mesma ave moribunda.
Por exemplo, em uma carta publicada em novembro na Emerging Infectious Diseases que analisava 15 núcleos familiares
entre 2003 e 2005 no sudeste da Ásia, os cientistas dos centros de controles de doenças e diversos ministérios da saúde
asiáticos notaram que quatro núcleos tinham vãos de mais de sete dias entre o dia que os membros da família ficaram
doentes. Eles questionaram a sabedoria convencional de que apenas um, o homem de Bangkok, foi uma provável
transmissão entre humanos.
(Por Donald G. McNeil Jr., The New York Times, 04/06/2006)
http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/nytimes/2398001-2398500/2398218/2398218_1.xml