A usina nuclear Angra 3 deverá ser aprovada na próxima reunião do Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE). Embora ainda não tenha data marcada,
setores do governo ligados à área energética têm trabalhado para que ocorra nos
próximos dias 21 ou 22, de modo a permitir o início de construção ainda este
ano.
O empreendimento, que demandará investimentos de US$ 1,8 bilhão, está incluído
no Plano Decenal 2007-2017, aprovado na último reunião do Conselho, ocorrida há
duas semanas, em Brasília. A usina já dispõe até de dotação orçamentária, de R$
104 milhões, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano.
Representantes do próprio governo revelam que o Ministério de Meio Ambiente, o
último foco de resistência ao projeto em âmbito federal, encontra-se
enfraquecido demais para impedir sua aprovação. A crise do gás com a Bolívia e
as dificuldades de licenciamento ambiental de novas hidrelétricas aumentaram o
risco de desabastecimento energético do país em um segundo mandato do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso, contribuíram para a derrota da ministra
Marian Silva, do Meio Ambiente, para os representantes da área energética do
governo.
Gente no próprio governo, que pediu para não ser identificada, revela que a
inclusão de Angra 3 no Plano Decenal já representaria uma aprovação informal do
empreendimento. O Plano – que mapeia os empreendimentos de geração e
transmissão previstos para o período 2007-2011 – foi aprovado na mesma reunião
de duas semanas atrás em que se traçou a estratégia para alcançar a
auto-suficiência de gás natural. O projeto só não foi incluído no pacote devido
a um acordo entre os participantes para que fosse apreciado em uma reunião
específica.
Ao dobrar a resistência da chefe da Casa Civil e ex-ministra de Energia, Dilma
Rousseff, a ala favorável à usina dá a queda-de-braço praticamente por vencida.
Frontalmente contrária ao caráter supostamente anti-econômico do projeto, a
ministra, segundo colegas de governo, teria perdido grande parte das certezas
que lastreavam sua posição depois da crise com a Bolívia.
Ao sinalizar um aumento dos preços das demais matrizes energéticas do país, a
crise com a Bolívia esvaziou o último argumento econômico contra a construção
da usina de Angra 3. Com a alta do gás, o preço da energia termelétrica
praticamente se equiparou ao da energia nuclear.
Conta um dos participantes da última reunião que, diante da exposição de outro
participante a favor de Angra, a ministra Dilma não só ouviu atentamente, como
também não teria feito qualquer objeção. Resta agora a ministra Marina Silva,
representada no encontro pelo secretário-executivo Claudio Langoni. Procurada
por este jornal, a ministra não foi encontrada. O secretário-executivo informou
que não foi comunicado, ainda, da data da próxima reunião. Um integrante do
governo federal revelou, porém, que essa é a data com a qual trabalha
representantes da área energética federal.
A urgência de aprovação do projeto ainda neste mês tem uma razão: a legislação
eleitoral não permite a inclusão de novos gastos no orçamento federal em um
período inferior a até três meses antes do pleito para escolha do presidente da
República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais dia 3 de
outubro próximo. De qualquer forma, a LDO já prevê um montante de
R$ 86.581.955,00 para a construção de Angra 3. Outros R$ 17,5 milhões foram
acrescentados por meio de emenda parlamentar destinada especificamente ao
projeto. Também já existe uma linha de financiamento prevista por bancos
alemães, como o Dresdner Bank, destinada à usina.
A usina, cujas obras foram interrompidas em 1987, demandará investimento no
total US$ 1,8 bilhão para ser concluída. Já dispõe de equipamentos comprados no
exterior, hoje armazenados e ainda em bom estado. A aquisição dessas peças
demandou um desembolso de US$ 750 milhões. Embora as obras tenham sido
interrompidas por falta de recursos e vontade política, o contrato de construção
e montagem, com a Andrade Gutierrez, ainda está em vigor. O secretário de
Energia, Indústria Naval e Petróleo do Estado do Rio, Wagner Victer, ressalta
que tal fato facilitaria a conclusão do empreendimento.
Por Ricardo Monteiro,
Gazeta Mercantil , 02/06/2006.