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2006-06-01
“O Brasil não é auto-suficiente em petróleo”. Essa é a opinião do biólogo Jan Karel Mähler Junior, mestre pela Universidade de Córdoba, na Argentina, em Manejo de Fauna. Um país que possa ostentar independência do mercado externo, segundo ele, é aquele que não precisa mais importar petróleo de nenhuma outra nação, “e não é o que ocorre atualmente com o Brasil”.

Na segunda quinzena de abril, a Petrobrás iniciou uma forte campanha na mídia do país para propalar a capacidade – igual ou superior à demanda nacional por este bem – que tem de produzir petróleo. Trata-se, no entanto, de uma informação questionável, segundo Mähler Junior. O biólogo que trabalha no Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (Defap), órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) responsável pela política florestal do Estado explica que o Brasil produz apenas um tipo de óleo: o mais grosso, pesado, que quando fracionado na refinaria, produz uma quantidade muito grande de nafta, gasolina, óleo combustível e, em quantidade menor, o óleo diesel.

Para atingir a suficiência na produção do estratégico mineral combustível seria necessário produzir também óleo refinado, de consistência mais fina e leve, cujas características são essenciais para a produção de diesel. “O que ocorre é que o Brasil é auto-suficiente apenas num tipo, no outro não. Pela tecnologia que temos, não há como produzir o óleo refinado. Precisaria de um investimento muito alto”, avalia.

Eduardo Eizirik, doutor em Biologia Genética pela University of Maryland, nos Estados Unidos, completa a idéia de Mähler Junior informando que as refinarias nacionais são adaptadas para uma certa densidade do petróleo, mais fina e leve, “que não é o tipo predominante das refinarias brasileiras. Para manter elas funcionando como estão, o Brasil precisa continuar importando. Claro que o petróleo da produção brasileira é usado para outras coisas, mas essa produção atual não torna o país independente da importação. Isso é real e é pouquíssimo divulgado”. De acordo com o site da Agência Nacional do Petróleo, nos três primeiros meses de 2006 o Brasil importou cerca de 31.158 milhões de barris de petróleo. No mesmo período de 2005, a quantidade adquirida foi um pouco superior, de aproximadamente 38.885 milhões de barris. Quando comparado a 2000, a diferença em relação ao total adquirido em 2006 é ainda menor, com 32.200 milhões de barris comprados.

Importância do combustível
De qualquer forma, o petróleo produzido no país tem uma importância muito grande para a economia nacional e para a geração de energia, segundo frisa o biólogo gaúcho. “Mas não adianta a gente ficar batendo na tecla só da auto-suficiência e não continuar buscando outras fontes melhores e alternativas de energia. O petróleo daqui uns dias vai acabar”, sintetiza.

Eizirik - professor da Faculdade de Biociências da PUCRS - acrescenta ter ficado impressionado com a quantidade de dinheiro investida em campanhas de divulgação da Petrobrás. “Poderia ter sido empregado em outras necessidades e não apenas em publicidade”.

A revista Isto É, com o apoio da Petrobrás, publicou quatro encartes especiais sobre o produto. O primeiro deles no dia 26 de abril. “Ao alcançar a marca de 1,9 milhão de barris extraídos por dia de nossas reservas, a companhia se torna capaz de suprir todas as necessidades nacionais de petróleo”, afirma a edição. “Sob o ponto de vista econômico, esse feito equivale a deixar de importar US$ 40 bilhões por ano”, completa.

Em referência ao cenário mundial, a revista informa que no G-7, o grupo dos sete países mais ricos do mundo, só Canadá e Inglaterra são auto-suficientes. Os EUA importam atualmente mais da metade do petróleo que consomem. Nações que já apresentam auto-suficiência, como a Rússia e o México, passaram a ostentar posições cada vez mais sólidas no balanço de pagamentos, o que os ajudou a se tornar investment grade, ou seja, são países de risco baixo para investidores externos.

Passivos
Outra frente comentada pelo biólogo Jan Karel Mähler Junior, que palestrou na última terça-feira (30/05) para os alunos da Faculdade de Biologia da PUCRS, em Porto Alegre, diz respeito aos impactos ambientais provocados por este combustível. De acordo com ele, os passivos “não são comuns na geração de energia”. O problema surge antes disso, ainda durante a extração e transporte do petróleo. “Os processos anteriores de retirada do óleo dos oceanos ou dos poços é que são um problema sério. No fim do processo esses impactos não são tão importantes”.

O derramamento de óleo no mar, por perfurações no casco de navios petroleiros ou por acidentes, por exemplo, poderia ocasionar sérios riscos à biodiversidade marinha e aos recursos hídricos. Nos peixes, pode impregnar as brânquias, impedindo-os de respirar. A carne também pode ser contaminada, tornando-a imprópria para o consumo.

Nas aves marinhas, o petróleo, em contato com as penas, pode impedir o vôo. Na tentativa de se limpar, as aves podem ingerir o petróleo e acabarem morrendo por contaminação. Outra forma de passivo é através da lavagem dos tanques dos navios, que liberam grande quantidade de petróleo no mar. Essa prática é ilegal, porém ocorre com freqüência.
Por Tatiana Feldens, 01/06/2006.

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