A possível construção do autódromo em Passo Fundo continua gerando muita
polêmica. De um lado os grupos ecológicos, que são contrários a sua construção
no local pretendido e de outro a Associação Automobilística Pró-Autódromo, que
deve decidir pelo início de estudos de impacto ambiental no local ou por estudos
de viabilidade de uma nova área. A área pretendida está localizada ao lado do
Parque da Efrica, num total de 30 hectares e abrange as duas principais
nascentes que abastecem a população de Passo Fundo, estando há 700 m da barragem
da Corsan.
Segundo os ecologistas, a construção do empreendimento, considerado de grande
porte, ocasionaria problemas de impacto ambiental no futuro, como queda na
qualidade e quantidade da água, que abastece a comunidade. A geógrafa e
integrante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Passo Fundo, Lucinda Gonçalves
Pinheiro, explica que a área onde está prevista a construção é fundamental para
pesquisa. “O local é próximo às nascentes de cotas mais altas, na cabeceira do
rio Miranda. Esta construção irá atingir os dois rios que abastecem a população
de Passo Fundo”, disse. Lucinda explica que os grupos são favoráveis a qualquer
empreendimento na cidade, desde que ele seja feito em locais adequados. “Esta
área é de relevante interesse ecológico e de importância no abastecimento
público, mas queremos ressaltar que somos parceiros deste empreendimento, que
consideramos fundamental para o município”, disse.
O coordenador do Grupo ecológico Sentinela dos Pampas, o geógrafo Paulo Fernando
Cornélio, destaca que no local já há impactos consideráveis no meio ambiente.
“O Aeroporto Lauro Kourtz estaria a 200 m do autódromo, o que seria considerada
área de risco. Além disso, temos a Efrica, que na nossa opinião não deveria
ter sido construída naquele local, além das lavouras e a própria barragem de
captação da Corsan, que é um elemento de grande importância social, ambiental e
econômica. A área é de fragilidade hidrológica grande, o que no futuro iria
influenciar na quantidade e qualidade da água”, afirmou o ecologista. Paulo
Fernando destaca também que se o empreendimento for construído, não haverá como
impedir o processo de urbanização no entorno nas nascentes. “Atualmente não
conseguimos nem impedir uma barragem que é cortada pela BR 285, o que
cientificamente é um absurdo. Como vamos impedir outros problemas futuros depois
que a construção for efetivada. Um exemplo deste tipo de situação é a barragem
de Erechim, cortada por uma estrada secundária, que acabou por ocasionar a morte
de 17 pessoas, não queremos que isto aconteça em nossa cidade”, disse.
Os grupos ecológicos Sentinela dos Pampas, Guardiões da Vida, juntamente com a
Associação Brasileira da Construção e Defesa da Cidadania (Abrac), que abrangem
cerca de 20 profissionais envolvidos na questão ambiental, afirmam estar
dispostos a trabalhar em conjunto com a Associação Pró-autódromo e a
administração municipal para que sejam feitos estudos de viabilidade de um novo
local para fazer o empreendimento. “Acreditamos que o autódromo é de grande
importância para Passo Fundo, para o desenvolvimento da cidade e ao mesmo tempo
queremos sensibilizá-los e mostrar que cientificamente e tecnicamente o local
não é adequado para um empreendimento como o autódromo”, concluiu Paulo Cornélio.
“Somos parte do meio ambiente não somos donos dele. Atingindo o meio ambiente
estaremos nos atingido diretamente.”
Diário da Manhã , 31/05/2006.