Brasil espera retomada no mercado de créditos de carbono
2006-06-01
O mercado internacional de crédito de carbono, que começou a funcionar em 2005,
inicia o mês de junho em compasso de espera. Após uma recente e forte queda nos
preços, agentes que negociam créditos aguardam as novas metas de redução de
emissão de carbono pelos países industrializados para se reposicionar no novo
segmento.
Nesse cenário, há oportunidade para o Brasil ampliar sua participação rumo à
liderança. Um estudo recente do Banco Mundial aponta que o mercado de créditos
de carbono movimentou US$ 10 bilhões em 2005 nas principais bolsas do mundo.
No primeiro trimestre deste ano, o volume de negociações é estimada em US$ 7,5
bilhões - valor que não inclui negociações chamadas "de varejo", estimadas em
US$ 1 bilhão. O Banco Mundial estima que, no ano, este mercado movimentará
entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões.
Ainda conforme a instituição, o mercado total de créditos de carbono é estimado
em 360 milhões de toneladas, das quais 20,95% referem-se a projetos brasileiros
já registrados junto à Organização das Nações Unidas (ONU).
"Espera-se que o Brasil seja um país líder no MDL [mecanismos de desenvolvimento
limpo], junto com a Índia e a China. A expectativa é que o país ocupe a
terceira posição a nível mundial", afirma Marco Monroy, presidente da MGM
International, empresa americana especializada em consultoria e venda de
créditos no mercado internacional.
De acordo com Monroy, há boas perspectivas para o Brasil, tendo em vista que o
país possui alto potencial para desenvolver novos projetos no setor de energia
renovável, aterros sanitários, estações de tratamento de efluentes, resíduos
animais, entre outros. O Brasil tem 135 projetos de geração de créditos de
carbono, sendo que 43 deles já estão registrados registrados junto à Convenção
Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (órgão da ONU que coordena
os projetos MDL).
Philippe Lisbona, diretor do Stratus Banco de Negócios (especializado na gestão
de fundos), aponta como outro fator favorável a expectativa de que a oferta de
créditos europeus (European Union Allowances) será menor no futuro. Conforme
ficou definido no Protocolo de Kyoto, entre 2008 e 2012, os países signatários
do têm que reduzir seus níveis de emissão de gás carbônico em 5% em relação ao
patamar de 1990.
Foi a superação dessas metas que fez os preços dos créditos despencarem entre 24
de abril e 12 de maio. No período, a European Union Emissions Trading Scheme
(EU ETS), principal bolsa de comercialização dos créditos, registrou queda de
até 63% nos preços, saindo de 29,43 euros por tonelada para 10,14 euros no
período.
"Os países signatários reduziram 65 milhões de toneladas além da meta. O mercado
que estimava precisar comprar projetos de MDL rapidamente se tornou vendedor",
analisa Lisbona. Ele observa que os preços começaram a se recuperar - fecharam
terça-feira (30/05) a 17,40 euros por tonelada na bolsa de EU ETS.
De acordo com Lisbona, esse reaquecimento ocorre porque os novos potenciais
vendedores de créditos não entraram no mercado para vendê-los. "Eles podem usar
esse crédito para compensar um aumento da emissão de carbono acima das metas no
futuro", afirmou.
Conforme Lisbona, a maioria dos países aguarda a definição das novas metas de
redução das emissões de carbono. Até o fim de junho próximo, a ONU deverá
ratificar os planos de distribuição nacional (NAP) dos créditos dos países
signatários do protocolo. Para o analista, se as novas metas traçadas forem
mais rígidas, os países industrializados não terão condições de reduzir ainda
mais suas emissões e, portanto, serão mais compradores.
Para ele, o Brasil também tem condições de crescer em importância nesse mercado.
Segundo dados do Banco Mundial, entre 2005 e 2006, a Ásia foi responsável por
32% das negociações de créditos, e a América Latina respondeu por 26% a 28%. O
potencial para a oferta de créditos está concentrada em um punhado de
localidades, predominantemente localizados na Ásia (China, Índia e Coréia do
Sul) e América Latina (Brasil e México).
Por Cibelle Bouças, Valor Econômico, 31/05/2006.
http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/agronegocios/179/Retomada+a+vista+no+mercado+de+carbono,,,179,3714265.html