A Venezuela, onde a gasolina em dólares custa menos do que a água,
exibirá aos parceiros da Organização de Países Exportadores de Petróleo
(Opep) os programas sociais que financia com a receita do petróleo,
mas não poderá esconder deles os congestionamentos monstruosos e o
consumismo.
Um gigantesco cartaz, de pelo menos 30 metros, recobre um edifício na
zona comercial de Chuao, em Caracas, com as palavras "Agora o petróleo
é dos venezuelanos", com uma foto do presidente Hugo Chávez abraçando
uma criança.
Esse é um dos numerosos cartazes que adornam edifícios estatais,
enormes murais que darão as boas-vindas aos ministros da Opep que
realizarão uma reunião extraordinária hoje na capital venezuelana.
Eles podem ser vistos pelos condutores nas principais vias da capital
que se convertem em um verdadeiro estacionamento durante várias horas
do dia devido aos congestionamentos constantes. Em parte, isso se
explica pela gasolina subsidiada: encher um tanque de gasolina de mais
de 70 litros custa cerca de US$ 2,50, mas essa mesma quantidade de
água potável engarrafada custa US$ 6,5.
Segundo um recente estudo do instituto nacional de transporte
terrestre, ao menos 1 milhão de veículos recorrem e congestionam as
ruas da capital diariamente. "Essa cidade é um caos, eu vivo nos
arredores da cidade e todos os dias sofro um congestionamento de entre
duas e três horas na volta para casa. São cerca de 6 horas perdidas
todos os dias", disse a dentista Morela Pérez, que enchia o tanque se
seu veículo em um posto de serviço. "Mas não troco meu carro. O
transporte público é deficiente no lugar onde moro, é um pesadelo
igual ou pior andar nele", lamenta Pérez, que costuma encher o tanque
de sua caminhonete com menos de US$ 2.
O litro de gasolina, pesadamente subsidiado pelo Estado, custa US$ 0,03
a econômica e US$ 0,04 a premium. O uso dos veículos particulares
também é estimulado pelas falhas de um transporte público que não
cobre todas as zonas da cidade e seus arredores e por um serviço de
táxi pouco confiável e caro, apesar do baixo preço do combustível.
O governo de Rafael Caldera (1994-1999) foi o último que aumentou o
preço da gasolina, embora logo Chávez tenha instaurado a venda
exclusiva de gasolina sem chumbo, que tem um preço moderadamente
superior à gasolina com teor de chumbo. "A razão fundamental para não
se aumentar o preço da gasolina é política, o subsídio será mantido",
explicou o sociólogo e professor universitário César Hernández.
Gazeta Mercantil/AFP, 31/05/2006