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2006-05-31
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse na terça-feira (30/05) que se os países sul-americanos não assumirem o controle de seus recursos naturais, nunca poderão se livrar das companhias transnacionais e avançar no processo de redução da pobreza. Depois de assinar em Quito um acordo de cooperação petrolífera de um ano com seu colega equatoriano Alfredo Palacio, Chávez -- que é forte opositor dos Estados Unidos -- acusou as empresas que exploram recursos na região de causarem miséria, porque sobrepõem seus interesses aos dos países.

"As transnacionais têm um dogma ... de levar a matéria prima e processá-la, e portanto levam o lucro e nos deixam a miséria e o atraso", disse Chávez. O presidente venezuelano é acusado por diversos setores de liderar uma campanha regional a favor da nacionalização dos recursos nacionais. O acordo entre Equador e Venezuela abre as portas para projetos milionários de refino de petróleo, enquanto Quito trava uma batalha diplomática com Washington por ter terminado o contrato de exploração da empresa Occidental Petroleum Corp. devido a supostas violações contratuais.

Chávez aplaudiu a decisão equatoriana porque a considera um avanço na recuperação do poder pelos países para definir o uso dos recursos e impulsionar uma guerra contra a pobreza. "Nós, os latino-americanos, que estamos empenhados em construir um futuro digno para todos, desde o Caribe até a Patagônia, aplaudimos a decisão do presidente Palacio e a apoiamos", disse Chávez, que foi recebido em Quito por dezenas de manifestantes de grupos sociais e de esquerda.

A resolução contra a Occidental permitiu a Palacio aumentar o controle sobre o setor estratégico de petróleo, já que a participação direta do Estado na produção total do país cresceu em 33,2 por cento, para 301.000 barris por dia, sem contar a porção que recebe das empresas privadas.

ACORDO
A visita de Chávez deu início ao acordo para que refinarias venezuelanas processem até 100.000 barris de petróleo por dia e entreguem o produto derivado durante um ano, para reduzir os crescentes custos do Equador com a importação de petróleo. O presidente afirmou que a Venezuela não poderá ampliar o prazo do acordo porque suas refinarias não têm mais capacidade.

O pacto prevê que as empresas estatais de petróleo de ambos os países, a Petroecuador e a Petróleos de Venezuela (PDVSA), formem empresas mistas para desenvolver iniciativas de exploração, produção, refino e comercialização de hidrocarbonetos -- apesar de não haver dados a respeito dos eventuais projetos e investimento.

A aproximação entre Quito e Caracas despertou suspeitas sobre a possibilidade do alinhamento do Equador às políticas de esquerda de Chávez. Mas o ministro da Energia equatoriano, Iván Rodríguez, rejeitou esta possibilidade ao garantir que o acordo é puramente econômico. "Aqui, os números mandam", disse Rodríguez diante das críticas das poderosas câmaras empresariais que se declararam, em comunicado de imprensa, "em luto" pela visita do mandatário venezuelano e por sua política de "comprar simpatias no mundo às custas da pobreza de seus compatriotas".

A aplicação do acordo permitirá ao Equador capitalizar sua riqueza petrolífera, que é desperdiçada pela ineficiência de suas refinarias, o que obriga o país a importar combustíveis. O quinto maior produtor de petróleo na América do Sul prevê importar neste ano 1,7 bilhão de dólares em combustíveis, o equivalente ao orçamento do governo central. Somado aos subsídios ao produto, o valor representa uma ameaça de bomba fiscal. O acordo de refino, previsto para começar em 45 dias, representaria economia fiscal de cerca de 300 milhões de dólares a Quito.
(Por Alexandra Valencia, Reuters, 31/05/2006).
http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2006/05/31/ult729u57126.jhtm

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