Mudança climática responsabilizada por furacões
2006-05-31
Mudança climática induzida pela atividade humana, e não ciclos naturais, pode ser responsável pelo recente aumento
na freqüência e intensidade dos furacões no Atlântico Norte, de acordo com pesquisadores da Universidade Penn State
e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O trabalho dos cientistas aparecerá numa edição da revista EOS,
da sociedade Geofísica Americana.
O professor de Meteorologia e Geociências Michael E. Mann, e o professor de Ciências Atmosféricas Kerry A.
Emanuel analisaram os registros globais da temperatura na superfície dos oceanos, freqüência dos furacões, impacto
da poluição a chamada Oscilação Atlântica Multidécada (AMO) - um ciclo dos oceanos semelhante, mas menos
intenso, que o responsável pelos fenômenos El Niño/La Niña.
Alguns cientistas sugerem que o ciclo AMO, de 50 a 70 anos, é o fator mais importante no aumento da quantidade e
violência dos furacões, mas o modelo estatístico elaborado por Mann e Emanuel indica que o único responsável é a
temperatura na superfície do oceano, moderada pelo efeito refrigerador de alguns poluentes da atmosfera baixa. "Só
temos um bom registro dos furacões e temperatura da superfície por pouco mais de 100 anos", diz Mann. "O que
significa que só observamos um ciclo e meio da AMO. Pesquisas sugerem que esse sinal existe, mas é difícil estimar
o período e a magnitude da oscilação".
Pelo modelo desenvolvido pelos pesquisadores, a verdadeira questão passa a ser a causa do aumento da temperatura
no Atlântico. Os cientistas descobriram que o efeito aparente da AMO desaparece quando a tendência de resfriamento
registrada entre 1950 e 1980 não é incluída nos dados. "Esse padrão de resfriamento no final do século 20 é atribuído à
produção de poluição por seres humanos", dotam Mann e Emanuel. Esse efeito humano estava "disfarçado" no ciclo
natural. Embora alguns gases produzidos pelo homem, como o CO2, produzem aquecimento global, outros poluentes,
como os óxidos de nitrogênio, baixam a temperatura na baixa atmosfera, ao refletir a luz do Sol.
Por conta dos ventos e correntes de ar, poluentes da Europa e América do Norte movem-se para áreas sobre o
Atlântico tropical. O impacto é maior durante o final do verão, exatamente no período de maior atividade de furacões.
Quando Mann e Emanuel usam as tendências de temperatura global e o impacto refrigerador dos poluentes, eles são
capazes de explicar tanto a temperatura no Atlântico quanto os furacões, sem necessidade de apelar para a AMO. Se
o efeito dos poluentes refrigeradores não forem levados em conta, a previsão de furacões supera o número registrado.
Isso sugere que essa refrigeração ajuda a moderar o número de tempestades.
(Estadão Online, 30/05/2006).
http://www.ambientebrasil.com.br/rss/ler.php?id=24929