RMA promove debate em Ilhéus sobre o futuro da Mata Atlântica
2006-05-30
Lançamento da campanha “Não a criação predatória do camarão pela Rede de ONGs da Mata Atlântica, debates sobre problemas ambientais da região, como o desmatamento, a monocultura de eucalipto e muitas palestras sobre o que está sendo feito por governos e organizações não governamentais para proteção do bioma marcaram a abertura da Semana da Mata Atlântica, no último sábado (27/5), em Ilhéus.
O auditório da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) foi pequeno para o público de mais de 300 pessoas. O Sul da Bahia foi escolhido para sediar o evento devido a sua importância ecológica – é nesta região que fica a maior biodiversidade de espécies arbóreas do planeta – foram encontradas 453 espécies em um hectare, no município de Uruçuca, a 50 km de Ilhéus.
A coordenadora geral da RMA, Miriam Prochnow, fez um apelo à aprovação do Projeto de Lei da Mata Atlântica, que tramita há 14 anos no Congresso Nacional. Também chamou o representante de Dom Luis Cappio, o bispo de Ilhéus Dom Mauro Montenello para receber o “Prêmio Amigo da Mata Atlântica 2006”, como reconhecimento pelo protesto feito pelo religioso em prol da preservação da bacia do Rio São Francisco. Cappio fez greve de fome por 11 dias para chamar a atenção do governo federal sobre o projeto de transposição do Rio São Francisco. O troféu da borboleta, símbolo da RMA, foi entregue pelo coordenador da RMA, Lizaldo Vieira, integrante do Movimento Popular Ecológico de Sergipe.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, Luiz Carrera (PFL/BA), disse que se não há consenso pela aprovação do PL, a proposta deve ir a votação. “Hoje o impasse não é o texto”, comenta, sobre o projeto que quase já foi aprovado. E se comprometeu: “vou me empenhar pessoalmente pela votação”. Carrera afirmou que é preciso resgatar “essa dívida do Brasil com a Mata Atlântica”. Para ele, poucos deputados estão contra a proposta. Lembrou que, nesse momento, é fundamental a mobilização da sociedade. “Enviem e-mails, correspondências para o Congresso, pois essa é a única forma de interferir no processo”. Mesmo assim, o deputado acredita que é possível a aprovação do projeto em junho deste ano.
A ministra do Meio Ambiente Marina Silva deixou de lado o discurso preparado e improvisou. Comparou os militantes ambientalistas aos glóbulos brancos, que têm a função de lutar pelo fortalecimento da imunidade do organismo, combatendo infecções. “O Carreira é o nosso glóbulo branco dentro do PFL”, exemplifica, arrancando gargalhadas da platéia. Ela reforçou a importância de se espalharem “colônias de glóbulos brancos” para alterar realidades com “infecções”. Depois de defender o PL da Mata Atlântica, falar das novas políticas de incorporação da variável ambiental do governo e até declamar uma poesia de sua autoria, a ministra foi aplaudida pelos presentes em pé.
Ministra se reúne com lideranças preocupadas com o avanço da criação de camarão
Depois da abertura da Semana da Mata Atlântica, a ministra Marina Silva e o secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo Capobianco se reuniram com lideranças da comunidade de Caravelas, onde poderá ser instalado o maior empreendimento de carcinicultura do país, em uma área de 1.517 hectares. A ministra Marina se comprometeu em assumir a questão e solicitou ao secretário Capobianco providências junto ao Ibama para o encaminhamento das solicitações dos representantes da sociedade local e da RMA.
Os representantes do movimento ambientalista, de marisqueiros e pescadores pediram à ministra a implantação da Reserva Extrativista de Cassurubá em Caravelas e a interferência do Ibama no processo de licenciamento do projeto de carcinicultura, conforme determina a Portaria 39, de 18 de maio deste ano, que define a Zona de Amortecimento do Parque Nacional Marinho de Abrolhos.
Dó Galdino Santana, da entidade Art Manha, de Caravelas, disse que os empreendedores estão adotando uma política de contra-informação na comunidade, alegando que o projeto trará empregos e geração de renda. Eduardo Camargo, do Instituto Baleia Jubarte, reforçou a importância do banco de corais de Abrolhos, considerado a mais importante área de biodiversidade marinha do Atlântico Sul Ocidental. Alexandre Jesus Faria e Selmo Serfim, da Associação de Marisqueiros de Ponta de Areia de Caravelas, manifestaram preocupação com as 300 famílias que vivem da pesca e da coleta de caranguejos e mariscos na região.
Renato Cunha, coordenador da Rede de ONGs da Mata Atlântica e integrante da coalizão SOS Abrolhos, afirmou que o órgão ambiental da Bahia está favorável a implantação da fazenda de camarão por uma decisão “política e não técnica”.
A coordenadora da RMA, Kênia Correia, professora da Universidade Federal de Pernambuco entregou à ministra a sua apresentação sobre a situação da carcinicultura no Nordeste preparada especialmente para a Semana da Mata Atlântica. A doutora em Ciências falou também sobre a campanha da RMA contra os impactos da carcinicultura. Lizaldo Vieira, coordenador da RMA, lembrou dos estragos que atividade já provocou em outros Estados nordestinos.
No final, os representantes da sociedade civil entregaram a “Carta de Cabrália”, elaborada no seminário “Educação Ambiental: Território, Sustentabilidade e Educomunicação”, realizado na Vila Santo André, município Santa Cruz de Cabrália, de 22 a 25 de maio deste ano. Deixaram ainda com as autoridades uma síntese do relatório do Grupo de Trabalho sobre Carcinicultura da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, denominado Manguezal Ameaçado.
Informações da Ass. de Comunicação RMA, 28/05.