Começa construção da primeira usina a carvão livre de CO2 na Alemanha
emissões de co2
2006-05-30
Enquanto outras empresas energéticas procuram alternativas para os combustíveis fósseis, grupo europeu defende o carvão mineral, através de técnica "limpa" de combustão. Nesta segunda-feira (29/05), o conglomerado de energia Vattenfall iniciou oficialmente a construção da primeira usina termelétrica experimental a carvão, sem emissão de dióxido de carbono. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, em pessoa, inaugurará as obras no Estado de Brandemburgo.
Revivendo o carvão fóssil
Dentre os gases produzidos por combustão, o CO2 é o mais danoso ao clima terrestre e um dos principais
responsáveis pelo efeito estufa. Um terço da emissão de CO2 é causada por usinas termelétricas movidas a
combustíveis fósseis. Na Alemanha, trata-se sobretudo da linhita, um tipo de carvão fóssil de cor acastanhada e com
alto teor de carbono. O principal consumidor desse combustível no país é a Vattenfall, que há alguns anos comprou as
usinas do conglomerado VEAG no Leste alemão.
A firma pretende investir 50 milhões de euros no atual projeto-piloto, a entrar em funcionamento em 2008, gerando 30
megawatts/hora de eletricidade. Ele se situa próximo às turbinas de carvão convencionais, nas tradicionais instalações
de Schwarze Pumpe, em Spremberg, nas proximidades de Cottbus, Brandemburgo.
Combustão "limpa"
A combustão nas novas caldeiras também produz dióxido de carbono. Entretanto, este é isolado e separado dos
demais gases, no processo denominado oxyfuel, onde a combustão é realizada em oxigênio, e não no ar normal. O
CO2 resultante é então liquefeito e armazenado subterraneamente. "A meta de nosso projeto de pesquisa é o
aproveitamento da linhita sem emissão de gases", comenta o presidente da Vattenfall Europa, Klaus Rauscher. "Os
investimentos para as instalações-piloto darão claro impulso a essa tecnologia".
Entretanto essa intenção ainda está na fase de desenvolvimento, pois a separação do dióxido de carbono ainda
compromete a produtividade. Como a produção de oxigênio e o processo de liquefação consomem energia adicional, a
capacidade das novas usinas fica entre 10% e 12% abaixo da das tradicionais.
O futuro da nova tecnologia
Por isso, a usina-piloto permanecerá em regime de teste por três anos. Durante este período, engenheiros e técnicos
estudarão modos de funcionamento alternativos, explica o porta-voz do projeto, Damian Müller. Com o conhecimento
acumulado, poderá entrar em funcionamento, entre 2012 e 2015, uma grande usina "livre de CO2", com capacidade de
300 a 600 megawatts/hora. Somente em 2020 a técnica deve estar apta para implementação em grande
escala.
Damian Müller admite que o armazenamento do CO2 debaixo do solo é um dos pontos controvertidos da nova técnica.
Uma possibilidade é usar para tal campos de petróleo exauridos sob o Mar do Norte ou o deserto da Líbia. Outra
possibilidade é o transporte por dutos.
Críticas dos ambientalistas
Diversos ambientalistas criticam a solução da Vattenfall. Gabriela von Goerne, do Greenpeace, sublinha que uma
eventual redução das emissões de CO2 não se fará sentir antes de 2020. A técnica incentiva ainda a continuada
extração do carvão fóssil, prejudicial ao meio ambiente, a longo prazo.
Além disso, vazamentos ou antigos poços de extração poderiam permitir escape de CO2, com efeitos negativos para o
ecossistema local e mesmo para o efeito estufa. Por último, Von Goerne rejeita o armazenamento no fundo do oceano:
essa técnica tanto dispendiosa quanto insegura poderia colocar desnecessariamente em perigo o sensível
ecossistema submarino.
A Vattenfall é a principal operadora de energia dos países nórdicos e a quinta mais importante da Europa. No
momento, outras operadoras experimentam com métodos "limpos" semelhantes. Na alternativa pesquisada pela Eon e
RWE, antes de ser queimada, a linhita é transformada num gás sintético, do qual se extrai então o dióxido de carbono.
A Eon pretende produzir eletricidade através dessa tecnologia, já a partir de 2011.
(Detsche Welle, 29/05/06)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,2035169,00.html