A moratória da pesca de arrastão não convence
2006-05-30
Vários grupos ecologistas globais demandam uma moratória internacional da pesca de arrastão, técnica que destrói a vida no fundo do mar. Entretanto, a proposta não obteve consenso entre os delegados presentes na Conferência da
Organização das Nações Unidas sobre Reservas Pesqueiras. Vários participantes da primeira reunião de revisão do Acordo da Organização das Nações Unidas sobre Populações de Peixes, assinado em 1995, reconheceram que a prática do arrastão é um tema preocupante, mas se mostraram indecisos sobre como abordá-lo.
Este tipo de pesca envolve o uso de enormes e pesadas redes ao longo do solo marinho. As grandes peças de metal e
as rodas de borracha adjuntas a estas redes se movem nas profundidades e arrastam quase tudo o que encontram em
sua passagem, afirmou a organização ambientalista Greenpeace. O grupo assegura que, pelo menos, cerca de 200
barcos de 11 países praticam a pesca de arrastão, cuja atividade representa 0,5% das capturas mundiais. Afirma,
ainda, que as formas de vida que se desenvolvem em águas profundas levam décadas, e até mesmo séculos, para se
refazerem dos danos.
“Há muitas propostas para limitar a capacidade destes barcos e ouvimos muitos pedidos de ação por parte dos
ministros”, disse David Balton, representante dos Estados Unidos e presidente da Conferência, que aconteceu entre os
dias 22 e 26 de maio, na sede da ONU, em Nova York. Porém, reconheceu que não há consenso em torno de uma
moratória e que, até agora, as medidas mais fortes para combater a pesca ilegal estão relegadas ao rastreamento por
satélite de barcos pesqueiros e rígidos controles portuários.
“A pesca pirata é um problema global que requer uma solução global”, disse Sari Tolvanen, do Greenpeace, em uma
declaração na qual pede urgência à comunidade mundial na aprovação de uma imediata proibição, pela ONU, de toda
pesca de arrastão em alto mar. A organização divulgou um novo informe, no dia 23, detalhando as atividades de cinco
barcos de pesca em alto mar, que continuam prejudicando a vida submarina em baías européias, apesar de constarem
da lista negra da União Européia e da Comissão de Pesca do Atlântico Norte desde o ano passado.
O informe destacou que, nos últimos seis meses, os barcos que estavam na lista negra mudaram seus nomes e
bandeiras e estiveram em serviço na Alemanha, Lituânia e Polônia, antes de regressarem aos seus antigos locais de
pesca. O Greenpeace também disse ter encontrado 64 barcos pescando em águas internacionais do Mar de Irminger,
no Atlântico norte, conhecido por seus corais de água fria. Entretanto, quem se opõe à moratória diz que não existe
nenhum estudo científico que demonstre os impactos adversos da pesca de arrastão.
“Em lugar de proibir esta prática, os governos deveriam caminhar no sentido de frear a pesca ilegal”, disse ao
Terramérica Javier Garat Pérez, vice-presidente da Coalizão Internacional de Associações de Pesca, que representa os
interesses da indústria. Contudo, os que estão preocupados com o impacto deste tipo de pesca discordam. “Não
sabemos cientificamente quais são seus efeitos”, explicou ao Terramérica Harlan Cohen, da União Mundial para a
Natureza (UICN). Sua organização apóia a idéia de uma proibição interina. Os delegados também parecem manter
opiniões diversas sobre os esforços regionais serem uma alternativa melhor do que uma moratória internacional. A
Conferência centrou seus esforços para fortalecer o Acordo sobre as Populações de Peixes, que aspira garantir a
pesca responsável de recursos altamente migratórios e outros que se estendem no limite entre águas nacionais e
internacionais. Até agora, apenas 56 países subscreveram este acordo, e seis dos dez principais produtores
pesqueiros do mundo estão fora dele.
É necessária mais participação para apoiar mais amplamente o acordo, afirmou David Doulman, da Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em uma declaração escrita que enfatiza a necessidade de
maior assistência aos países em desenvolvimento, para que possam cumprir suas obrigações no contexto deste
acordo. Para o Greenpeace, “a natureza global da pirataria pesqueira” sugere que nenhuma ação individual dos
governos seria efetiva sem uma moratória sobre a pesca de arrastão estabelecida internacionalmente. A organização
considera lançar uma nova campanha em favor de sua demanda de moratória, reunindo um milhão de assinaturas até
fevereiro.
(Por Gutenberg Pádua, Envolverde, 29/05/06).
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=17836