O empresário vietnamita Thai Quang Nghia, criador da marca Goóc, famosa por
utilizar pneu reciclado e lona de caminhão em sandálias e bolsas, está
preparando o lançamento de duas novas marcas e a mudança da fábrica para a
Bahia, onde poderá reduzir em 10% seus custos com tributos. É mais um lance
ousado desse vietnamita que, fugindo da pressão do regime comunista, foi
resgatado em alto mar por um navio da Petrobras em 1979 e, com apenas três anos
no Brasil, já cursava a faculdade de Matemática na USP.
Hoje dono do grupo Domini, que além de varejista de calçados e bolsas fabrica
peças de vestuário, Nghia desenvolveu duas novas linhas para ampliar o sucesso
para as classes C e D, além de planos para aumentar o número de canais de
distribuição.
A empresa começou com a marca principal Yepp, mas um processo judicial com a
carioca Yep levou à troca do nome para Goóc, em 2003. No ano passado, o
faturamento da empresa aumentou 250% em relação à 2004, atingindo a cifra de
R$ 28,5 milhões. "Nos primeiros três meses de 2006, a demanda aumentou 300%.
Ainda não conseguimos atender a um volume assim", afirma Nghia.
Hoje, a Goóc tem sete lojas próprias, oito franqueadas e vende ainda para cinco
mil lojas multimarcas, constando nas prateleiras de grandes varejistas, como
Renner e C&A. "Quando lancei o estilo da Goóc, visava as classes C e D, mas a
aceitação foi grande nas classes A e B, e acabamos elitizando o produto."
Nesse processo, o preço médio dos produtos para o lojista passou de US$ 7 para
US$ 15. "Agora, quis retomar a proposta de marcas com o mesmo conceito de
resistência e criatividade, voltado para as camadas mais populares".
Na recém-lançada Koan, são 30 modelos de bolsas, 20 de calçados e 10 de roupas.
"A Goóc é mais original. Mesmo que seja esquisito, à primeira vista, é mais
autêntica, mais radical. A Koan obedece à simplicidade, é mais harmônica",
explica. Por enquanto, a marca está sendo comercializada nos mesmos revendedores
e lojas da marca Goóc, mas a intenção é que, futuramente, ela tenha espaços
próprios. Os produtos são 10% mais baratos que a Goóc.
Em julho, a empresa lança sua terceira marca. "Escolhemos o nome Ômely, que em
vietnamita significa paixão à primeira vista. Mas, como queremos um
relacionamento mais duradouro com o consumidor, utilizamos a palavra amor na
divulgação. Os preços serão 30% mais baratos que a Goóc e a marca não terá lojas
próprias. As marcas Goóc e Ômely não serão vendidas no mesmo ponto-de-venda.
Produção própria
Atualmente, apenas a produção de calçados é própria. "No próximo ano, queremos
entrar também na fabricação de roupas, com o objetivo de aumentar a participação
das confecções no faturamento". Em 2005, 75% da produção era concentrada em São
Paulo. Hoje, está dividida entre São Paulo e Bahia, mas até o final do ano a
empresa pretende estar concentrada na Bahia, deixando apenas a parte
administrativa em São Paulo.
"A Bahia tem incentivo fiscal e isso nos motivou a transferir a fábrica. Teremos
quase 10% de redução nos gastos com impostos atuando lá", explica. Ainda no
corte de gastos, Nghia antecipa que a verba para publicidade será reduzida, de
10% para 5% do faturamento.
Linha diversificada
Hoje a linha Goóc tem cerca de 100 produtos diferentes - 30 modelos de bolsas,
40 de calçados e 30 de vestuário. "A marca está crescendo muito, mas os
calçados continuam como produto principal. Segundo Nghia, a linha de maior
sucesso é feita com borracha de pneu: 70% do solado é de pneu reciclado e 30%
de borracha natural. Muitas peças são feitas com lona de caminhão ou sintética
e a costura é externa. "No início, o lojista estranha, mas o público jovem gosta.
O consumo no Sul e Sudeste é muito fechado, muito tradicional e de moda, mas
na Bahia, por exemplo, temos ótimas vendas. O baiano é mais aberto, mais
criativo, por isso gosta de coisas novas." Do público consumidor, 70% são jovens
solteiros, com idade entre 18 e 30 anos.
A linha de borracha de pneu é mais barata, já que existe muita oferta do
material no Brasil. "Não há o que fazer com tanto pneu usado neste País". A
empresa compra pronto o pó de pneu que será usado na fabricação de solados. O
executivo diz que está em estudo a compra de equipamento. "Isso exigiria
investimento em torno de US$ 1,5 milhão. Não vai baratear o processo, mas
permite um controle maior de qualidade." Calçados de lona e borracha representam
cerca de 80% do faturamento.
Até hoje já foram vendidas 4,5 milhões de unidades Goóc. O projeto até 2013,
quando o estilo completa dez anos, é que 210 milhões de unidades tenham sido
comercializadas. "Considerando a projeção demográfica do País, queremos que
cada brasileiro tenha atingido a nossa mensagem".
A marca já é vendida em 15 destinos internacionais, incluindo Estados Unidos,
Croácia e Arábia Saudita, mas que representam pouco mais que 1% da produção da
empresa.
Por Maria Luíza Filgueiras,
Gazeta Mercantil , 30/05/06