Petrobras faz novos estudos sobre a viabilidade do H-Bio
2006-05-30
A Petrobras começa a aprofundar nos próximos dias os testes sobre a
viabilidade econômica do H-Bio - novo combustível derivado da mistura de
um óleo vegetal com o petróleo que foi anunciado pelo governo federal
como alternativa para o suprimento de diesel a partir dos próximos dois
anos.
Segundo Sylvestre de Vasconcelos Calmon, gerente de tecnologia de
refino da Petrobras e responsável pelos testes com o H-Bio, as próximas
baterias serão realizadas nas refinarias de Betim (MG) e Araucária (PR).
"Serão feitos testes em outras refinarias e sob outras condições para
avaliar o custo logístico para a produção em escala industrial", disse
ele.
Conforme o gerente, os primeiros estudos foram realizados na Refinaria
Gabriel Passos (Regap), onde foi confirmada a viabilidade técnica do
biocombustível. "É cedo para falar em economicidade. As nossas plantas
não foram construídas para receber óleo vegetal".
Ele observa que hoje as refinarias não têm estrutura adequada para
receber o óleo vegetal. Não há cálculos sobre o custo de transporte do
produto até as refinarias - diferentemente do diesel, que segue por dutos,
o H-Bio terá de ser transportado por rodovias. Foi justamente por
saber que essa estrutura de transporte não existe que nos testes já
realizados a Petrobras optou pelo percentual de 10% de mistura de óleo vegetal
com petróleo - volume máximo de óleo vegetal que a refinaria
conseguiria receber nas condições atuais.
Na produção do H-Bio, o petróleo e o óleo vegetal passam por um
processo químico com o hidrogênio - daí o "H" -, formando um combustível com
as mesmas características do diesel derivado de petróleo, mas com menor
teor de enxofre. Conforme cálculos da Petrobras, a adoção da mistura
de 10%, que não implica investimentos em infra-estrutura das refinarias,
poderá gerar uma demanda por óleo vegetal equivalente a 256 milhões de
litros por ano. Isso se o H-Bio for adotado de maneira regular, o ano
todo, e a mistura se tornar obrigatória - duas variáveis que ainda não
estão definidas.
"A Petrobras poderá processar o H-Bio ou não, dependendo da demanda no
momento, dependendo do preço do óleo, do preço do petróleo. Será uma
decisão gerencial baseada em preços", pondera Calmon, esclarecendo que
se trata de um programa complementar ao programa nacional de biodiesel e
sem a obrigatoriedade de uma produção fixa.
O anúncio do novo combustível pelo governo federal foi recebido com
grande otimismo por representantes da cadeia produtiva da soja. A
Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) considerou que a demanda fixa por
óleo de soja para produzir o H-Bio pode até mesmo frear a decisão das
indústrias esmagadoras de produzir óleo e farelo na Argentina.
Leandro Ponchio, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq/USP), diz que as expectativas recaem sobre a soja por ser a
oleaginosa com mais oferta disponível e com custo competitivo em relação a
outras matérias-primas.
Ponchio observa que o farelo é o principal produto das indústrias e é
obtido simultaneamente no processo de produção do óleo. "Se as
indústrias elevam a oferta, haverá queda no preço do farelo e elas tentarão
repassar a diferença elevando o preço do óleo. Esse equilíbrio precisa
ser avaliado", afirma.
Até o momento, não é possível precisar em quanto os programas de
biocombustíveis poderão favorecer os produtores de oleaginosas. A Associação
Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) não tem estimativa
de demanda pela soja para biocombustíveis.
Uma projeção para biodiesel, baseada no consumo de diesel no país
aponta que, para a mistura obrigatória de 2%, a partir de 2008, será
necessário produzir na região Centro-Sul 601 milhões de litros de biodiesel
por ano. O programa do governo prevê para a região a predominância do
biodiesel de soja pela oferta abundante da matéria-prima. Mas até agora,
as usinas têm preferido matérias-primas mais baratas, como sebo animal
e nabo forrageiro.
De seis empresas que participaram do leilão do Ministério de Minas e
Energia, apenas a Granol produz o biodiesel de soja. Dos 315,5 mil
metros cúbicos (ou 315,5 milhões de litros) arrematados no leilão e que
serão fornecidos à Petrobras a partir de julho, a Granol produzirá 90 mil
metros cúbicos. Os outros - ofertados por Binatural, Biocapital, Brasil
Biodiesel, Ponte di Ferro e Renobrás - terão como matérias-primas o
sebo, a mamona, o nabo e o girassol.
Por Cibelle Bouças, Valor Online, 29/05/06.
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