Os atrativos da Ilha de Santa Catarina, a parte insular da cidade de Florianópolis, tem atraído um grande número de imigrantes e turistas para a região, principalmente a partir dos anos 1990. Para atender ao segundo grupo, que é cada vez maior, grandes empreendimentos hoteleiros vêm sendo criados em várias partes da cidade, principalmente no norte.
Nessas construções, como mostra um livro que acaba de ser lançado pela editora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), nem sempre as paisagens naturais ou arquitetônicas da região estão sendo mantidas.
"Em alguns casos, as dunas foram totalmente retiradas. Em outros, morros foram inteiramente cortados. O ambiente está cada vez mais fragilizado", afirma Margareth Afeche, coordenadora de Florianópolis – Do outro lado do espelho.
Para Margareth, também professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e do curso de pós-graduação em geografia na área de Desenvolvimento Urbano e Regional da UFSC, o mesmo processo de descaracterização, com algumas exceções, está ocorrendo com o patrimônio arquitetônico da ilha.
De forma geral, as grandes construções avaliadas no livro estão segregando o espaço. “O espaço público tem que ser ocupado pelo cidadão, mas não é isso o que está ocorrendo. A legislação tem funcionado como um fantoche”, afirma Margareth. Do ponto de vista geográfico, regiões como as praias do Jurerê e do Campeche são as mais afetadas segundo o livro.
“Na região sul, a situação está um pouco melhor em termos de preservação ambiental. Entretanto, todo o chamado maciço central de Florianópolis está sofrendo com as pressões. Em alguns morros, o problema é também a favelização”, explica a professora da UFSC, arquiteta de formação, mas com doutorado na França na área de geografia.
Além da própria organizadora, autora do capítulo Florianópolis como espaço do público, outros seis autores participaram da publicação. Carlos Augusto Monteiro, da Universidade de São Paulo, escreveu Florianópolis: o direito e o avesso, Paulo Marcos Rizzo é autor de A natimorta tecnópolis do Campeche de Florianópolis.
Luís Roberto da Silveira, Francisco Ferreira, Luís Pimenta e Nelson Vaz escreveram, respectivamente, A defesa de um espaço público por natureza: a Ponta do Coral como bem coletivo, Natureza e projeto urbano na Ilha de Santa Catarina, Habitação e qualidade e vida urbana no Maciço Central e Espaços públicos urbanos.
A descaracterização ambiental e estética da cidade de Florianópolis, explica Margareth, que é paulista de nascimento, vem sendo, na medida do possível, combatida por diversos grupos sociais da cidade. A própria comunidade da UFSC, na visão da pesquisadora, vem tendo um papel importante. “A cidade tem hoje 300 mil habitantes, mas apenas na universidade são 40 mil. Temos um peso importante nessa questão”, lembra Margareth.
Por Eduardo Geraque, Agência FAPESP