No Brasil, restam apenas 7% da vegetação original da Mata Atlântica. O ecossistema, rico em biodiversidade, já cobriu, no passado, áreas que iam do nordeste do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul. Há décadas, o desmatamento voraz tem sido responsável por ameaçar espécies da fauna e da flora, além de comprometer os recursos hídricos do bioma.
Uma das iniciativas para defesa do ecossistema é a criação e a gestão de Unidades de Conservação (UC). No Brasil, as primeiras UCs foram implantadas nas áreas de Mata Atlântica, mas a ação não tem sido suficiente para reverter o quadro de desmatamento.
Durante uma série de debates organizados entre os dias 26 e 28/05 pela organização não-governamental Fundação SOS Mata Atlântica, Carlos Manuel Rodriguez, ex-ministro do Meio Ambiente da Costa Rica, afirma que um país que deseja recuperar suas áreas naturais não deve se ater a “programas e projetos específicos aqui ou ali, é um processo de país e tem que ter consenso da sociedade civil”. A Costa Rica tem uma experiência positiva em termos de preservação da Mata Atlântica. No final da década de 80, o desmatamento havia deixado apenas 21% da sua cobertura vegetal original. A política ambiental adotada pelo país em 1996 proibiu o desmatamento em quaisquer áreas do país e privilegiou a criação de unidades de conservação. A ação foi bem sucedida e, em 2000, o território recuperara 45% da sua mata nativa e 25% do território está protegido por Unidades de Conservação.
O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco concorda com Rodriguez e afirma que o maior desafio do Brasil em assuntos ambientais é exatamente a decisão do desmatamento zero. “Não é um desafio do governo federal, é um desafio da sociedade brasileira”. Capobianco explica que hoje uma das estratégias do ministério “é priorizar determinadas fitofisionomias do bioma que estavam totalmente desprotegidas e à beira da extinção”.
Os ambientalistas defendem também a gestão integrada de diversos recursos naturais, como a água, o solo e a própria floresta da Mata Atlântica. Malu Ribeiro, coordenadora da Rede de Águas, da SOS Mata Atlântica, afirma que é muito mais econômico e eficiente trabalhar com a conservação e a gestão de recursos naturais como um todo e enfatiza que ações em curto prazo na área ambiental não resolvem o problema.
Espécies em extinção
O Ministério do Meio Ambiente e mais 38 organizações assinaram no evento um protocolo de intenções para a criação de Aliança Brasileira para Extinção Zero, uma iniciativa que busca salvar as espécies ameaçadas de extinção e tenta impedir que outras variedades tenham a mesma sorte. O objetivo da Aliança é aliar as capacidades técnicas, científicas, financeiras e políticas de instituições governamentais e não-governamentais para essa empreitada.
“A Aliança pretende apontar o número de espécies em extinção e identificar o local onde vivem essas espécies e a partir daí criar ações para conservação”, explica a superintendente técnica da Fundação Biodiversitas, Gláucia Drummond.
O Brasil está no processo de identificação dessas espécies em risco. Em 2003, o MMA divulgou a lista das espécies em ameaça de extinção da fauna, em 2005, de peixes e invertebrados aquáticos e, para o segundo semestre de 2006, está prevista a lista de espécies da flora. “A preservação da biodiversidade demanda muitas ações. A identificação [das espécies] é um passo fundamental, mas é inicial. O governo não pode fazer sozinho e por isso a Aliança é extremamente positiva”, afirma Capobianco.
O secretário do MMA ainda lembra que “publicar a lista das espécies é obrigação e tirar as espécies dessas listas é compromisso”. Segundo ele, é a primeira vez que um país se compromete a tomar esse tipo de iniciativa e se der certo será um exemplo a ser disseminado.
Por Natalia Suzuki,
Agência Carta Maior