Por Marcelo Gravina de Moraes*
O impacto de apenas dez anos da biotecnologia é impressionante. A área estimada de cultivos transgênicos já alcançou 90 milhões de hectares em 2005. Praticamente a totalidade dessa área é ocupada pelos cultivos de soja, de milho, de algodão e de canola. Com menos visibilidade, mas com impactos igualmente extraordinários, outros exemplos da biotecnologia estão surgindo. Talvez um dos mais bem sucedidos seja o caso do mamão papaia resistente ao vírus da mancha anelar. O mamão transgênico é utilizado desde 1998 no estado do Havaí, nos EUA, e foi responsável pela recuperação da atividade agrícola e comercial envolvida na produção de papaia.
O vírus da mancha anelar é um exterminador. A produção de mamão no Havaí decresceu de 26 milhões de toneladas em 1993 para 15 milhões de toneladas em 1998. As plantas infectadas com os vírus não se recuperam, convertendo-se em reservatórios do vírus, o qual é rapidamente transmitido por insetos. Quando as plantas são infectadas ainda jovens simplesmente morrem sem produzir frutos. Já as mais velhas produzem frutos pequenos e sem valor comercial. Não existe a ocorrência natural de genes de resistência ao vírus. Além disso, é impossível o plantio de novas árvores em áreas afetadas pela doença.
Sem condições de prosseguir produzindo mamão, muitos produtores abandonaram sua atividade. Esse quadro justificou o alto grau e a rapidez na adesão à tecnologia, chegando a 76%, de acordo com uma pesquisa realizada logo no segundo ano de lançamento da primeira variedade transgênica. A mesma pesquisa indicou que mais de 86% dos produtores se declararam satisfeitos com a tecnologia e se manifestaram dispostos a adquirir sementes transgênicas novamente. Alguns declararam que se não fossem as variedades transgênicas sequer estariam cultivando mamão.
Atualmente uma das duas variedades transgênicas lançadas, a Rainbow, é a mais cultivada no Havaí. É um fruto doce e com a polpa amarelada, características desejadas pelos consumidores de mercados exigentes como o norte-americano e o canadense. Nesses países, o preço é determinado pela qualidade dos frutos, e não se eles fossem produzidos por variedades transgênicas.
O Brasil é o maior produtor de mamão papaia do mundo, mas exporta apenas 1% da produção. O mercado para os nossos frutos é muito importante, mas os efeitos da mancha anelar aqui também são devastadores. Em Pernambuco, os resultados apontam para uma redução aproximada de 70% na produção, 60% no número de frutos por plantas e 20% no peso médio nos frutos da planta. Em São Paulo, a doença provocou o desaparecimento quase total da cultura.
A Embrapa desenvolveu uma variedade transgênica resistente às estirpes brasileiras do vírus. Esperamos que os produtores de mamão sejam mais felizes que os sojicultores e tenham esse produto disponível no período mais breve possível.
* Marcelo Gravina de Moraes é engenheiro agrônomo, Ph.D. em Fitopatologia, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).
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