A Rede de ONGs da Mata Atlântica lançou durante a Semana da Mata Atlântica (26 a 28 de maio) a campanha: “Não a criação predatória do camarão”. A iniciativa visa chamar a atenção da população sobre os impactos negativos da carcinicultura.
A atividade vem ameaçando a biodiversidade e as populações tradicionais, especialmente no Nordeste, onde é produzido 95,5% do camarão brasileiro. Entre os problemas decorrentes da criação do crustáceo exótico estão o desmatamento de áreas de preservação permanente (verdadeiros berçários de vida marinha, que garantem a manutenção de ecossistemas ricos em diversidade biológica), a grande quantidade de efluentes lançada na água e prejuízos à população local, que antes fazia uso sustentável do mangue, com a coleta de mariscos e crustáceos. A expulsão de pescadores acarreta conflitos de terra e empobrecimento das comunidades tradicionais.
Segundo a coordenadora do Grupo Temático de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal, Kênia Correia, a carcinicultura está sendo considerada por vários segmentos – governamental, empresarial, e até mesmo população local desavisada - como “a receita mágica para o desenvolvimento da região Nordeste”. A professora da Universidade Federal de Pernambuco lembra que todas as vezes que o homem depositou suas esperanças exclusivamente em cima da exploração dos recursos naturais, como durante o ciclo do pau-brasil, ciclo do ouro e das pedras preciosas, o ciclo da madeira, do café, do cacau, da borracha, da cana-de-açúcar, etc, houve um apogeu de riquezas seguido de uma concentração de riquezas nas mãos de poucos com custos ambientais elevadíssimos e estes sim, compartilhados por todos, local e globalmente.
“Não podemos aceitar um modelo de agronegócio, com a introdução de uma espécie exótica, que novamente repita a formula de exploração dos recursos naturais, agora já agonizantes, como é o caso dos nossos manguezais, apicuns e restingas, na busca de lucros imediatos que favorecerão apenas alguns em detrimento de muitos, desta e das futuras gerações”, argumenta a PhD em Ciências.
Kênia aponta, no entanto, que a tecnologia empregada em alguns empreendimentos de carcinicultura evoluiu bastante, tendo corrigido procedimentos causadores de extremos impactos ambientais. “Resta-nos equacionar a vantagem social do empreendimento com a preservação dos nossos ecossistemas costeiros, a curto, médio e longo prazos, principalmente quando estamos vivendo uma época em que o aquecimento global e suas conseqüências ambientais já não é uma “estória de ficção científica”.
A RMA também considera a Zona de Amortecimento do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, criada pela portaria 39/2006 do Ibama, que foi publicada no Diário Oficial da União no dia 19 de maio deste ano, como um local que deva ser preservado. Mesmo com a portaria, o Conselho Estadual de Meio Ambiente da Bahia aprovou a localização de um grande empreendimento de carcinicultura nos municípios de Caravelas e Nova Viçosa.
Saiba mais sobre a campanha no site da
RMA
(Informações da Assessoria de Comunicação da RMA, 29/5)