Greenpeace “queima” árvores em 11 países em ato de defesa da Amazônia
2006-05-29
Ativistas do Greenpeace realizaram ato simbólico em defesa da Amazônia “queimando” árvores em parques e ruas famosas de 11 países ao redor do mundo. Aplicando pôsters de papelão reciclado com imagem de fogo aos troncos das árvores, os ativistas recriaram a imagem de uma floresta em chamas em grandes centros urbanos. No Brasil, o protesto aconteceu simultaneamente, a partir das onze horas da manhã, em São Paulo (Parque Trianon), Porto Alegre (Parque da Redenção) e Salvador (Parque da Cidade). Além destas capitais brasileiras, cidades na Austrália, Papua Nova Guiné, Hungria, República Checa, Espanha, Holanda, Alemanha, Argentina, Estados Unidos e Canadá participaram do ato global contra a destruição da Amazônia.
“Nosso objetivo com este protesto é chamar a atenção da população mundial para a urgência de se proteger a Amazônia contra a expansão da fronteira agropecuária e a extração criminosa de madeira, que são as forças econômicas por trás das queimadas e do desmatamento”, disse Rebeca Lerer, que coordenou o ato no Brasil.
Nos últimos três anos, foram destruídos mais de 70 mil km2 de floresta amazônica – o equivalente a um campo de futebol perdido a cada oito segundos. O estado do Mato Grosso, maior produtor de soja do país, lidera a estatística mundial de queimadas em matas derrubadas para dar lugar a fazendas, segundo dois estudos recentes de cientistas americanos feitios com base em dados de satélite da agência espacial Nasa. A soja, cuja produção é financiada e exportada por empresas transnacionais que atuam na Amazônia, como ADM, Bunge e Cargill, além do grupo brasileiro Maggi, se tornou um dos principais vetores desse desmatamento. Estima-se que mais de 1,2 milhão de hectares originalmente cobertos por floresta amazônica estão hoje ocupados por latifúndios de soja.
“A maior floresta tropical do planeta está sendo destruída para produzir ração animal para o mercado mundial e acaba servida como alimento em redes de fast food como Mac Donalds e KFC e supermercados”, afirma Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace. Investigações recentes do Greenpeace revelaram que os crimes florestais começam na Amazônia e atingem toda a indústria alimentícia da Europa. O relatório “Comendo a Amazônia” detalha como fazendas de soja que praticam grilagem de terras e desmatamento em larga escala e utilizam mão-de-obra escrava fornecem soja para ração de frangos e vacas que abastecem restaurantes e supermercados na Europa.
Para plantar soja e outros grãos, fazendeiros limpam extensas áreas de floresta através de queimadas.. Em 2005, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 167.220 focos de calor na Amazônia Legal. Além de ser um dos maiores exportadores de soja do mundo, o Brasil também está em quarto lugar na lista dos maiores poluidores do planeta. Dados recentes do Ministério da Ciência e Tecnologia apontam que 3/4 das emissões brasileiras de gases estufa são resultado do desmatamento da Amazônia.
O Greenpeace lançou uma ofensiva internacional de grande escala para expor a ameaça representada pela soja como vetor da expansão da fronteira agrícola sobre áreas de floresta. No dia 19 de maio, o Greenpeace bloqueou o porto da multinacional Cargill em Santarém (PA), impedindo o descarregamento de soja amazônica por mais de 3 horas. Funcionários da empresa e produtores de soja da região reagiram com violência à manifestação pacífica no porto ilegal da empresa. Quatro ativistas foram feridos e 16 detidos pela Polícia Federal. O porto da Cargill em Santarém é ilegal porque foi construído sem a realização de Estudo de Impacto Ambiental, previsto na Constituição Brasileira, e é um dos principais acessos da soja de desmatamentos criminosos ao mercado internacional. A Cargill opera 13 silos de armazenamento de grãos no bioma Amazônico, mais do que qualquer outra empresa do ramo.
Sábado (27/5), em Manaus (AM), o navio do Greenpeace Arctic Sunrise encerrou expedição de dois meses pelo país promovendo a criação de uma rede de áreas protegidas e de uso sustentável na Amazônia para deter o desmatamento. O navio chegou no final de março em Porto Alegre (RS), passou pelo nordeste, esteve em Belém e em Santarém, no Pará, onde participou das manifestações contra o cultivo de soja na Amazônia. Durante este período, mais de 25 mil pessoas puderam visitar o navio e uma exposição de 72 fotos sobre a realidade da Amazônia e o trabalho do Greenpeace na região.
A floresta amazônica é uma das áreas com maiores índices de biodiversidade do planeta e tem papel fundamental na estabilidade climática da Terra. O Greenpeace exige uma moratória no plantio de soja na Amazônia até que um plano abrangente de áreas protegidas e de uso sustentável seja efetivamente implementado pelo governo brasileiro. A entidade está pressionando as multinacionais da soja e seus clientes na indústria alimentícia a garantir que os grãos consumidos na alimentação animal não destruam a Amazônia e que não utilizem soja transgênica. A entidade também cobra do governo brasileiro a execução do Plano interministerial de combate ao desmatamento e o fortalecimento das instituições federais como IBAMA, INCRA e Polícia Federal para deter a destruição florestal.
O Greenpeace é uma organização independente que usa protestos criativos e não-violentos para expor problemas ambientais em escala global e promover soluções essenciais a um futuro pacífico e sustentável.
Greenpeace Brasil, 28/05/06.
http://www.greenpeace.org.br/vivaamazonia/noticias.php?conteudo_id=2783