Preocupada com o avanço das voçorocas na região sul fluminense, há
cinco anos a Embrapa Agrobiologia (Seropédica/RJ), unidade da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa, vinculada ao Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento iniciou no município de
Pinheral um projeto de recuperação destas áreas degradadas.
Desenvolvido em parceria com a Embrapa Solos e o Colégio Agrícola Nilo
Peçanha, o projeto tem por objetivo criar áreas modelos para que
possam ser multiplicadas por empresas ou órgãos públicos para tentar
conter a degradação acelerada das terras localizadas na Bacia
Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.
Para conter o avanço das Voçorocas modelo, os pesquisadores contaram
com a ajuda dos alunos do Colégio Agrícola Nilo Peçanha. Sob a
orientação de professores e pesquisadores da Embrapa, foram construídas
paliçadas com material alternativo como pneu velho e bambu para
reduzir o impacto das águas das chuvas nas voçorocas. Além disso, foi
preciso utilizar plantas mais resistentes e que pudessem crescer nas
condições adversas daquele solo. Para isso, foi empregada a técnica de
recuperação de áreas degradadas desenvolvida pela Embrapa Agrobiologia
e que já vem sendo aplicada em diversas regiões do Brasil.
A técnica consiste no uso de bactérias fixadoras de nitrogênio
associadas a plantas da família das leguminosas. Em laboratório, os
pesquisadores identificam as bactérias mais eficientes e produzem as
mudas de árvores com esses microrganismos. Depois de uma seleção das
melhores mudas, as leguminosas são plantadas em viveiros da Embrapa e
encaminhadas a área degradada.
A metodologia utilizada é simples e vem rendendo resultados animadores
após estes cinco anos e duas voçorocas revegetadas. A redução da
emissão de sedimentos por essas voçorocas chega a 90% já no primeiro
ano e próximo a 98% após cinco anos, em função das práticas de
contenção aliadas a maior cobertura vegetal e deposição de folhas e
galhos pelas árvores, que acaba formando uma espécie de “esponja”,
aumentando o tempo de permanência da água no solo e reduzindo os
efeitos erosivos.
A produção de sedimentos para o rio nessa região é significativa e os
resultados podem ser vistos na turbidez das águas, assim como nos
problemas de assoreamento dos reservatórios de Funil e do Sistema
Light, que captam água para o abastecimento de 70% da região
metropolitana do Rio de Janeiro, afetando diretamente, cerca de 8
milhões de pessoas.
Estima-se que no trecho entre Barra Mansa e Japeri existam hoje
aproximadamente mil voçorocas. São cerca de 20 mil toneladas de solo
retirados de cada cratera e levados para o curso do rio. Para se ter
uma idéia do volume de terra, pode-se dizer que são 2 mil caminhões de
aterro. Imaginando que esta situação pode ser repetida mil vezes no
trecho mencionado, seriam 2 milhões de caminhões de aterro depositados
no rio Paraíba do Sul ao longo do desenvolvimento da voçoroca.
Causas - Voçorocas são crateras nos morros provocadas pela
erosão devido as fortes chuvas de verão. Quase sempre, a causa está
na retirada da floresta, num solo susceptível a erosão, sendo mal
utilizado com atividade agrícola desordenada, queimadas, pisoteio do
gado em fortes declividades, excesso de animais na pastagem, que
aliado a ação das chuvas culmina nessa situação mais extrema da
degradação natural.
Por Ana Lúcia Ferreira,
Embrapa , 26/05/06