Finalmente, 24 anos depois de ser criada, a única reserva biológica da Região
Central passou a ser tratada com o respeito que merece. Por duas semanas, um
grupo de 40 pesquisadores do Centro Internacional de Pesquisa Ambiental (Cipam)
foi para o mato fazer a radiografia de uma área de 596 hectares dentro dos
municípios de São Martinho da Serra e Itaara. Ela fica na bacia do Rio
Ibicuí-Mirim, que mata a sede de 60% da população de Santa Maria e garante a
sobrevivência da população de, no mínimo, três cidades.
O projeto está fazendo o levantamento da fauna e da flora existentes na reserva
e dos perigos que estão ameaçando bichos e plantas. E não são poucos. Caça,
desmatamento, invasões e agricultura destróem o que a força da lei não consegue
fazer sozinha.
- A principal função das árvores é produzir água. Elas infiltram água no solo,
depositam matéria orgânica, garantem a biodiversidade e purificam a atmosfera -
alerta José Sales Mariano da Rocha, 66 anos, idealizador do projeto e
responsável pelo Cipam.
Por quase 20 anos, José Sales buscou uma forma de reunir ciência, preservação
ambiental, educação e desenvolvimento sustentável num só projeto. A realização
veio após o professor conseguir ganhar o concurso da Petrobras Ambiental, que
financia o projeto.
O acampamento montado pela 13ª Companhia Depósito de Armamento e Munição (13ª
Cia DAM) deu a estrutura para que o sonho de José Sales se unisse ao de outra
pessoa. Foi por causa de tudo o que viu e sentiu que, em 1982, Afonso Barros, à
época no comando da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), conseguiu
que o seu sonho de demarcar aquela área e transformá-la em uma reserva biológica
se tornasse realidade e fosse batizada de Ibicuí-Mirim. Foi assinado o decreto,
e a Corsan ficou com a missão de mudar a realidade de destruição progressiva.
Foi um encontro do acaso, em um local esculpido com maestria pela cuidadosa
mistura de água, árvores, pedras, terra e muitas espécies. A diversidade não é,
ali, uma palavra bonita. Tropeça-se nela. Escuta-se. Cheira-se.
- Fez-se o que pôde, não o que se devia. Mas imagina como seria isto tudo daqui
se não tivesse sido criada a reserva? Valeu a pena, e a gênese disso tudo foi a
idéia de Afonso Barros - desabafa o engenheiro da Corsan Sérgio Martini, que
trabalhou na criação da reserva na década de 80.
Projeto é apoiado por várias entidades
Por duas vezes, o engenheiro trilhou toda a reserva. Hoje, depois dos tempos de
desbravar matas e gabinetes políticos, uma parceria promissora entre Exército,
UFSM, Ibama, Brigada Militar, Petrobras e prefeituras apóia o projeto.
No acampamento do Cipam, pesquisadores e estudantes fazem o levantamento
completo da bacia do Rio Ibicuí. Da formação geológica do solo, passando pela
fauna (desde crustáceos nas margens dos rios até os pássaros nas árvores) e
chegando na cobertura vegetal. Tudo vai sendo medido, classificado e analisado.
Para que, diante dos perigos que rondam a única reserva biológica da região, a
destruição não leve embora algo que nem sabemos direito o que é.
Diário de Santa Maria , 26/05/06.