O chacareiro Adão Jorge Casseres, 46 anos, sempre teve uma curiosidade: saber
como era o solo no fundo das barragens. A estiagem que avança por regiões do Rio
Grande do Sul e que já obrigou 77 municípios a decretarem situação de
emergência pôs fim à sua dúvida. Ontem à tarde (25/05), ele caminhava sobre o
chão rachado da Barragem do Capingüi, em Mato Castelhano, no norte do Estado.
De acordo com a Defesa Civil, de 1° de dezembro até agora, oito cidades já
adotaram o racionamento de água: Bagé, Candiota, Itacurubi, Canguçu, Trindade
do Sul, Bom Jesus, Esperança do Sul e Pouso Novo. Entre as regiões, as situações
mais críticas estão na Sul e na Norte. Em cada uma delas, 10 municípios
decretaram situação de emergência por causa da seca.
Morador há quatro anos da localidade de Santo Antônio dos Grigolos, em Mato
Castelhano, Casseres está desolado com o cenário local, onde barcos ficam
perdidos no meio do barro, e a falta de água espanta peixes e outros animais.
- Dá um aperto no coração ver uma situação dessas. E pensar que o homem também
tem culpa nisso tudo - diz o chacareiro.
Ontem à tarde, moradores e proprietários de residências da região da Barragem
do Rio Capingüi ouviram, na prefeitura de Mato Castelhano, explicações técnicas
sobre a vazão de água no local. Havia polêmica sobre o porquê da água estar
sendo deslocada para o rio.
De acordo com Jéferson Pozzebom Borges, 33 anos, engenheiro-chefe da direção de
produção na área de geração da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE),
o que está sendo feito é apenas uma vazão sanitária, para manter o Rio Capingüi
vivo durante a estiagem. Na região, há usinas de energia responsáveis por
abastecer parte dos municípios.
Corsan descarta risco de racionamento em Passo Fundo
Às margens da rodovia Passo Fundo-Vacaria (BR-285), outra imagem impressiona. Um
dos lados da Barragem da Corsan, que deságua no Rio Passo Fundo e abastece o
município homônimo, está completamente seco. Na outra margem, a água já é
escassa. Diante da situação, uma placa proibindo a pesca e o nado no local se
tornou motivo de piada.
Mas, segundo o superintendente regional da Companhia Riograndense de Saneamento
(Corsan), Antônio Alfredo de Souza, 40 anos, apesar da situação inusitada, não
há motivo para preocupações, e o racionamento não é cogitado no município.
- O reservatório de água existe justamente para isso. Quando há estiagem, essa
água é usada para não deixar o rio secar - diz Souza.
Por Cléber Bortoncello,
Zero Hora, 26/05/06.